A carta
Opiniao

A carta

Era uma vez uma esposa que vivia em pé de guerra com o marido, tinham um filho de sete anos, os dois se encontravam desempregados, foi quando ele deixou uma carta:

“Ana Lúcia:
Eu sei que é difícil a convivência em dois.
Você pode me bater, me xingar e eu não farei nada, mas não encoste as mãos no nosso filho, e nem lhes dirija palavras de baixo calão, pois me sentirei atingido – como aconteceu quando lhe feri. Não é questão de covardia, é questão de punição pelo o que você fez com ele: Defendi-o legitimamente, com causa.
A maior covardia de um homem é despertar o amor de uma mulher sem ter a intenção de amá-la. Eu tive a intenção de te amar, mas você não se esforçou para perceber, sou uma pessoa fácil de lidar, e você não quer ver. Todas as vezes que você fala de seu ex-namorado ou de outro homem, eu não digo nada. Sugestão: esteja bem consigo mesma. Dica: tenha certeza que filho cria asa.
Covardia é abandonar a vida à própria sorte com ameaças do tipo “já pensei em me matar”. Covardia é bater em filho e falar palavrão na frente dele. Covardia é traumatizar uma criança saudável, bonita e inocente, ao luxo de louças que quebram contra a parede e copos que estraçalham ao chão. Quando uma mulher está casada e fala para o marido que não precisa dele, é porque não tem coragem de ir embora.
Coragem é perceber que um relacionamento não dá certo, mas ainda assim tenta-se a conciliação, já que não há outra saída, sobretudo quando os pais devem mostrar ao filho o caminho do futuro nesse mundo cheio de obstáculos.
Você está se acabando por dentro Ana Lúcia, isso é covardia. Levanta vôo, aproveita a vida, divirta, viaja, vá com sua família para algum lugar, porque covardia é eu ter que ouvir toda vez de você: ‘estou deprimida’. Não use óculos escuros para ofuscar seus medos. Testar o poder na fraqueza do outro, isso sim é covardia, apenas defendi meu fraco filho do seu poder violento. Seja forte e deixa a criança aprender o que a vida tem de ruim e de bom a lhe ensinar.
Há uma passagem no filme ‘Ray’ (sobre a vida do cantor cego Ray Charles), em que a mãe dele o vê caído no chão, grita e implora socorro, pois seus olhos não enxergam mais, e Ray entra em pânico e desespero sem poder ver nada. Ele não percebe a mãe a dois passos à sua frente, e berra, pede ajuda. A mãe vê o filho aflito e põe-se a chorar, mas ela permite que o filho aprenda a conviver com aquele sofrimento, sozinho. Ela não o ajuda, não fala nada, não se manifesta.
Entre mimar o filho numa hora difícil, e aproveitar a oportunidade a fim de prepará-lo a um mundo em que ele se sinta mais a vontade, tente a segunda opção. Ray Charles se tornou o cantor cego mais famoso do mundo, e atingiu o sucesso almejado.
As pessoas que mais passam por momentos difíceis na vida, são as mais hábeis na ação de enfrentarem situações adversas. Use seu medo para ter coragem de viver, e eu sei que você capaz.”.

“O amor é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la à beira de um precipício.” – Sthendal, escritor francês. (1783 – 1842).

guilherme.lazzarini@yahoo.com.brPublicitário e Fotógrafo