A consciência chora
Opiniao

A consciência chora

Falo hoje sobre a Consciência e sua condição de paz ou perturbação. Recebi uma carta que me inspirou a tratar de algo que todos temos, mas usamos de maneiras diferentes: a Consciência. Alguns já a têm desabrochada, conduzindo com sabedoria as questões da vida, ajudando os indivíduos na escolha de respostas e posições a serem tomadas no sentido do bem comum. Nossas consciências são como faróis a iluminar nossos caminhos e decisões. São um dom essencialmente humano, que faz um ser agir corretamente, mesmo que suas inclinações instintivas negativas lhe “gritem” para fazer bobagens, tomar atitudes impensadas, passar por cima de princípios que deveriam norteá-lo. Nesta semana, no noticiário, vi algumas mães que jogaram seus bebês recém nascidos no lixo, no rio, num beco. Que tipo de seres estão vivendo entre nós hoje em dia? O instinto maternal deveria se sobrepor a todos os outros! Sem a consciência norteando os atos, decisões e atitudes humanas pelos Princípios Universais, temos, não mais humanos, mas monstros. Assim se denominou o senhor idoso que me escreveu: “Quando olho para trás, no meu passado, não vejo a mim mesmo como um humano, mas um monstro, dominado pelo orgulho e os mais baixos instintos: um ser prepotente e orgulhoso. Deploro ter nascido”. Esta é uma frase de um homem doente, idoso e, agora, totalmente dependente da esposa, depois da doença que o atingiu abruptamente. Hoje ele enxerga sua mentalidade fútil, sua vida amorosa como “conquistador barato”, sua conduta inadequada para com os filhos, netinhos, e, principalmente com a esposa, como um enorme desperdício, como um terror que ele não consegue apagar de seu coração e sua consciência que ora sangra de remorsos.

O arrependimento veio. Em todos estes dois anos de invalidez, ele pode avaliar o imenso, grandioso valor de sua esposa, sua família e uns poucos amigos. Agora, enfim, ele chamou à tona sua consciência, deixou-a fluir e pede, todos os dias que o perdoem por ter sido tão arrogante com todos eles no passado. Aquela mulher serena, de cabeça toda branca, que cheira a perfume de flores e lhe acaricia a face sorrindo, todos os dias, é aquela que lhe jurou amor eterno, em toda e qualquer circunstância da vida. Com sua consciência em prantos, ele me pede para reproduzir, dividir sua história de vida com meus leitores. Como ele mesmo disse: “ao menos, perto de minha partida, posso alertar pessoas sobre o horror que é querer voltar ao passado para reparar erros, e não poder”. Que Deus o abençoe Sr. B. Até!

Glorita Caldas é professora e consultora da LAC Consultoria, e-mail: glocaldas@uol.com.br