A entrevista
Opiniao

A entrevista

Imagine que você está numa entrevista de emprego e se preparou para isso. Perguntas acerca de sua responsabilidade na empresa anterior você vai tirar de letra, bem como dizer a respeito de seus objetivos a curto, médio e longo prazo. Pretensão salarial, então, você responderá objetivamente. Perguntas do tipo: ‘Por que eu deveria te contratar?’ ‘Por que você acha que é o mais adequado para essa vaga?’ ‘O que você sabe sobre nós?’ Tudo isso você vai acertar em cheio, já que tais respostas foram planejadas e estudadas. Aí você sai todo confiante de casa e, chega à entrevista e, na sala de recursos humanos você e mais um grupo de cinco candidatos, recebe uma folha com algumas perguntas a fim de serem respondidas – e você conclui todas com êxito.
Mas ainda falta a segunda parte do processo seletivo que é a conversa olho-no-olho com o coordenador de RH. Enquanto você espera na fila sentado numa cadeira alcochoada, você se sente todo feliz, já que se saiu super-bem na parte escrita. E, eis que ouve da secretária: “próximo!”. Você entra naquela sala, um homem se mantém numa poltrona reclinável a trajar camisa salmão sem gravata posicionado detrás de uma mesa de vidro com um lap-top aberto. “Senta-se, por favor. Aceita uma água ou café?” “café eu não tomo, desculpe, mas eu acompanho o senhor num copo d’água”. O homem fala ao interfone: “Rafaela, traz dois copos de água, por favor”. Até aí você se sente tão confiante que convenceu o próprio recrutador a tomar algo em sua companhia.
“Se você fosse um animal o que você seria?” Ahá… por essa não esperava hein? E o pior é que ele perguntou isso logo no seu primeiro gole em que você quase engasgou. Aí você responde a primeira coisa que vem à cabeça e, que aliás, você tem um de estimação na sua casa. “Porque um cachorro?” retruca o entrevistador. “Sei lá, porque eu gosto e acho bonito”. “E se você não pudesse ser um cachorro?”. Agora complicou, hein? Ninguém mandou não ir preparado. “Um g-gato? Talvez?” – você responde hesitante. “Um gato, talvez!” repete o homem, ironicamente a demonstrar desdém de sua gagueira. “Por que um gato?” “Bom, porque eles são bem legais…a minha tia tem um e ele é super manso.” “E se você não pudesse ser um gato, seria o que?” Aí é pedir demais… ainda bem que você controla suas necessidades fisiológicas (ou deveria). “Um pássaro!” “E por que?” “Porque eu gosto de me sentir livre” Mentira! você sempre trabalhou atrás de um computador enclausurado numa sala de quatro metros quadrados, a tomar refrigerante de cola e devorando pacotes de bolachas, além do quê, você nunca foi sozinho ao cinema e “livre” era a última coisa que o entre-vistador queria ouvir, porque naquela empresa você ia ganhar muito bem a fim de ficar preso o dia inteiro num escritório a descascar códigos de computador.
Porém, o selecionador à sua frente, com aquelas perguntas todas não é tão carrasco assim e resolve te dar outra chance pra ver se você se conserta. Então, ele questiona: “Se você fosse a uma ilha deserta e pudesse levar três departamentos de uma empresa, quais seriam?” Claro que você não sabe. Você responde, mas nem sequer cita ‘departamento financeiro’, ou seja, como que as pessoas que trabalham na ilha vão receber? E aí vem uma de cunho pessoal, já que você está nervoso: “Se você fosse um super-herói, qual você seria? o homem-aranha, ou batman?” Pronto! Você estava tão tenso que nem lembrou que não gostava de quadrinhos e ainda quis dar uma de bom e respondeu ‘Batman’ só porque passou no cinema há um tempo. Era só falar “não sei, não me ligo muito em quadrinhos.”
O entrevistador percebe que você está cheio de defeitos, ele imagina que a próxima você vai conseguir pra fechar: “Cite dois defeitos seus”. Nessa, você demorou mais tempo pra gaguejar do que pra responder. Sim, porque falar dos outros é fácil, quero ver falar de você… e é por isso que nem preparou essa resposta. Estava tão compenetrado nas outras coisas que não teve tempo pra você mesmo.

“Vida é o acontece com você enquanto você está ocupado fazendo outros planos” – John Lennon