A natureza mandou avisar
Opiniao

A natureza mandou avisar

Há muito tempo a história das tragédias no inicio de cada ano no Brasil provocadas pelas chuvas de verão, já se tornou um acontecimento certo e de conseqüências previsíveis quanto aos danos provocados à população.  Falar a respeito é chover no molhado. Estamos cansados de ouvir ou ler sobre o que as administrações públicas deveriam ter feito para evitar maiores desastres, sobre as ocupações irregulares, desmatamento de encostas, retiradas de famílias das áreas de risco, adoção de sistemas de alerta mais eficazes ou elaboração de planos de emergência com base em mapeamentos, e a mais surreal de todas, quando dizem: “no ano que vem a questão estará resolvida”.

Na realidade, há 50 anos quando a capital do Brasil mudou para o centro-oeste evidenciou-se o marco inicial para o inicio da descentralização geo-política do Brasil.  Era o momento propicio para a grande mudança, que infelizmente não ocorreu.  Deu no que deu, grande concentração populacional desafiando cada vez mais a natureza nas regiões metropolitanas.  E por falar em natureza, o homem altera o ambiente natural sem  se preocupar em preservá-lo diferentemente dos outros seres vivos que sabem organizarem-se.

Exemplos clássicos nos dão as formigas e os pássaros. Um formigueiro só é formado num lugar seguro a todas as formigas, assim como os pássaros que só fazem seus ninhos onde sabem que estão 100% seguros. O instinto de preservação da espécie e organização estão presentes em todos seus movimentos. Já a capacidade humana degrada o ambiente sem se preocupar em preservá-lo, bem diferente dos animais que modificam a natureza ao mesmo tempo que se harmonizam com ela.

O que se vê por aqui são as construções em beira dos rios, córregos, morros, depressões, que evidencia a natureza egoísta ou ignorante do ser humano, que pensa antes no próprio bem estar, sem se preocupar com quem está ao seu redor e com as gerações futuras, isto é, não se preserva a espécie. Por outro lado, o poder público faz vistas grossas não exercendo a sua obrigação de fiscalizar as áreas que devem ser protegidas além de não cumprir com a obrigação constitucional de prover moradia digna aos menos favorecidos.

Culpar apenas os que ocupam irregularmente áreas perigosas não é justo, pois esses são hipossuficientes e dependentes da ação do Estado. Disso tudo resulta o que estamos assistindo, mas mesmo assim, ainda há tempo para mudanças futuras, pois a Natureza somente está nos avisando como diz o velho adágio, “Quem avisa amigo é”.

Cassio José Suozzi de Mello é contador, economista, advogado e sócio da Suozzi Mello Auditores Independentes.