A nova doença velha
Opiniao

A nova doença velha

Notícias de crimes, de terrorismo, guerras, pedofilia e afins, correm como furacões pelos meios de comunicação, e está certo, pois todos têm de saber, por prevenção e amadurecimento. Mas, notícias boas, sobre, por exemplo, cientistas que ajudaram a salvar a população de doenças gravíssimas, vêm discretamente, na maioria dos meios de comunicação.
Quando o iluminado Dr. Albert Sabin veio visitar o Brasil, há muitos anos, eu me lembro que meus pais comentaram sobre ele ter viajado no mesmo avião de jogadores de futebol da Copa retornando ao Brasil. O povo, os jornalistas e fotógrafos saudaram os jogadores calorosamente e milhares de flashes foram disparados cobrindo os jogadores de “glórias”. Um único jornalista estava ali esperando o sábio Dr. Sabin. E “assim caminha a humanidade”. A cruel epidemia de Poliomielite que atingiu o Brasil nos anos 50 chegou ao lar de meus pais e nossas vidas não foram mais o mar de felicidade de antes. Eu tinha dez anos quando minhas duas irmãs gêmeas nasceram gorduchas e lindas. Como não havia notícias de gêmeos em Mirassol, as visitas eram abundantes e diárias. Aí a Poliomielite bateu em nossa porta e de outras dezenas de crianças da cidade. A Medicina da época foi incipiente para aplicar os medicamentos e procedimentos que hoje se sabe corretos, já que nem a vacina preventiva tinha sido descoberta. Minha irmãzinha Bernadete, uma das gêmeas, sofreu as enormes e pavorosas conseqüências da Pólio. Sua vida de criança, adolescente e moça foi preenchida com quatro grandes intervenções cirúrgicas, aparelhos pesados de ferro e couro, e minha mãe aplicava-lhe 3.500 exercícios por dia e o fazia também em outras crianças atingidas da vizinhança. De cabeça e coração brilhantes, Bernadete foi valente e é exímia professora de Inglês, tendo todo o suporte de sua irmã gêmea. Isto, quando dava, pois as dores e degeneração dos músculos são céleres e progressivas. Surgiu então, uma luz, um conforto para os deficientes físicos que ainda estão aqui, com cerca de 55 anos de idade, que veio do Dr. Acary Bulle Oliveira: Emérito Neurologista da Escola Paulista de Medicina, 1º Presidente da ABRASPP: (Associação Brasileira da Síndrome Pós Polio). Também participa deste movimento, o Emérito Fisiatra Dr. Abrahão Quadros. A Pólio foi erradicada, mas a preocupação desses médicos brilhantemente humanos com quem sofreu tanto, com quem foi taxado de preguiçoso, incompetente e outros sórdidos julgamentos indevidos e maldosos sofridos pelos portadores dessa síndrome, está valendo muito no suporte afetivo e na recomposição da auto estima dos atingidos pela Pólio. Para quem se interessar, está tudo registrado na Internet: www.abraspp.org.br. Até!

Glorita Caldas é professora e consultora da LAC Consultoria, e-mail: glocaldas@uol.com.br