A privatização petista
Opiniao

A privatização petista

18/02/2012

A presidente Dilma Rousseff acaba de privatizar os três maiores aeroportos do País, inclusive com dinheiro dos fundos de pensão e financiamentos do BNDES. Não é a primeira vez que o PT, no governo, segue caminhos totalmente diversos de suas pregações históricas. Na campanha eleitoral de 2010, a candidata Dilma Rousseff condenava radicalmente todas as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.
Dilma rendeu-se às evidências. Se não optasse pela privatização, o Brasil poderia ter sérios problemas no setor de transportes aéreos na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. A pior solução seria manter os três maiores aeroportos nas mãos da Infraero, quando o Estado brasileiro, semifalido, investe menos de 2% do PIB em infraestrutura.
A dúvida agora é diferenciar quais são as privatizações boas e quais as más. As do PT serão as boas? E as do PSDB, serão privatarias?  Ou, ainda por vingança tucana, os petistas serão acusados de promover uma espécie de “privataria petralha”?

Negação do ideário
Um amigo, filósofo e bem-humorado, costuma dizer-me que o PT só acerta na mosca quando nega seu ideário, quando muda seu discurso radical e faz exatamente o oposto do que propunha em 2002: ”a ruptura total com o modelo econômico neoliberal vigente no País”. Em lugar desse modelo, Lula e Dilma consolidam um modelo que se poderia chamar de neoconservador. E, mais uma vez, ao chegar ao poder, o PT faz aquilo que condenou no passado. Não explica, entretanto, sua mudança de posição nem pede desculpas a quem acreditava em sua pregação anterior.
É bom lembrar que Antônio Palocci, quando prefeito de Ribeirão Preto, iniciou o processo de privatização das Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto (Ceterp), concessionária municipal. A própria presidente Dilma Rousseff, quando pertencia ao PDT e assessorava os governadores gaúchos Alceu Colares e Olívio Dutra, na década de 1990, defendeu a privatização da antiga Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), que foi vendida para a Telefónica em 1997.

Um dos diretores do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), Emanuel Cancella, publicou no dia 31 de janeiro, no site da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobrás), um dos artigos mais radicais contra as privatizações no Brasil (http://www.aepet.org.br/site/colunas/pagina/206/Servios-Privatizados-caos-instalado-e-preos-exorbitantes-), no qual critica até a presidente Dilma Rousseff por sua disposição de privatizar os maiores aeroportos.

Livro polêmico
O debate sobre as privatizações do governo FHC ganhou até um livro polêmico, com o título de A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior (Geração Editorial, São Paulo, 2011). Escrito numa linguagem panfletária, o livro anuncia muito mais do que realmente oferece, ao prometer “documentos secretos e a verdade sobre o maior assalto ao patrimônio público brasileiro” e “a história de como o PT sabotou o PT na campanha de Dilma Rousseff”.
Para quem estuda a fundo o problema, o livro é frustrante, acima de tudo pelo tom emocional, de palanque, sem a menor isenção, com uma montanha de documentos requentados de inquéritos passados. Mesmo assim, penso que todas as denúncias de lavagem de dinheiro e de supostas fortunas tucanas em paraísos fiscais das Ilhas Virgens Britânicas deveriam ser examinadas com todo o rigor pela Justiça e apuradas, até mesmo para comprovar a consistência ou veracidade das acusações. Se eu fosse o autor e tivesse plena convicção da autenticidade das provas e da culpabilidade dos acusados, não hesitaria um minuto em ingressar na Justiça.
Seria oportuno, também, que o autor, tão experiente em jornalismo investi-gativo, apurasse com muito maior rigor e reunisse o máximo de provas relativas a crimes não esclarecidos e tão polêmicos como a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, e de outros prefeitos petistas. Ou o enriquecimento surpreendente de uma dezena de ex-ministros degolados por corrupção nos últimos nove anos. E mais: que escrevesse tudo em linguagem mais serena e equilibrada.
O esclarecimento dessa pauta seria um grande serviço ao País.

Ethevaldo Siqueira, colunista do Estadão (aos domingos), é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br