Adeus, Facebook. É demais
Opiniao

Adeus, Facebook. É demais

16/02/13

Minha paciência chegou ao fim. Não aguento mais. Estou aqui para despedir-me de meus amigos no Facebook, tanto os que conheci quanto os que reencontrei nesta rede social, e dizer-lhes que o balanço de minha experiência é muito negativo. É claro que respeito a opinião daqueles que gostam do Facebook. Continuarei a acompanhá-lo a distância, como observador crítico e independente, profundamente interessado na evolução desta rede social. Mas, para mim, chega.
Nesta despedida, meus amigos, eu os convido a fazer comigo um balanço do Facebook que, aliás, completa nove anos, pois fez sua estreia dia 4 de fevereiro de 2004. Seus fundadores – Mark Zuckerberg, então com apenas 19 anos, e mais quatro colegas da Universidade de Harvard – talvez jamais tivessem a expectativa de que o empreendimento poderia crescer tanto e alcançar a receita anual de US$ 5,08 bilhões e mais de 1 bilhão usuários ativos. E mais da metade desses usuários em todo o mundo só acessam o Facebook via dispositivos móveis, como smartphones, tablets ou outros. E vale lembrar que o Brasil é o segundo país do mundo em número de usuários do Facebook, com cerca de 69 milhões associados.

O lado positivo
Não há dúvida que o Facebook tem muitos aspectos positivos. Reconheço que ele me permitiu fazer quase 3 mil novos amigos e reencontrar aqui mais de 2 mil queridos companheiros que a vida espalhou pelo Brasil e pelo mundo.
Do lado profissional, tem-me proporcionado centenas de informações exclusivas e em tempo real, bem como excelentes análises, comentários bem escritos, bem pensados, sobre problemas relevantes, expressos com equilíbrio, mas com coragem. E muito mais coisas importantes, nos grupos especia-lizados dos quais tenho participado.

Reverso da medalha
Vejamos agora o outro lado da moeda. Segundo uma pesquisa divulgada há duas semanas, um terço dos usuários dessa rede sente-se frustrado e com um claro sentimento de inveja diante dos demais internautas que relatam seus sucessos, publicam suas fotos de viagens, de carros ou de produtos que não têm ou não podem adquirir.
Meu problema não é nenhuma inveja, mas a terrível frivolidade do conteúdo postado por pessoas que só sabem falar sobre si próprias sobre coisas quase sem nenhum interesse para 99% dos usuários. É uma espécie de Big Brother virtual. Ou melhor, de Egobook. Tudo na primeira pessoa. Um amigo internauta publicou seu auto-retrato psicológico e fez um resumo de suas manias. E concluiu com estas palavras: “Eu sou assim, eu vivo assim, sempre fui assim e quem não gostar de mim que vá comer capim lá no fundo no jardim”.

Narcisismo
Especialistas e educadores mais críticos dizem que “o Facebook acabou tornando-se uma obsessão nacional nos Estados Unidos, causando uma vasta perda de tempo e estimulando o narcisismo” entre milhões de pessoas, em especial entre os jovens.
O Facebook, além de ser uma coisa das mais chatas e aborrecedoras que eu conheci na internet, nos rouba um tempo precioso. Não tenho dúvida de que milhões de pessoas estejam perdendo centenas de horas por mês nessa rede. De meu lado, pergunto a mim mesmo: “Por que não ler mais, até em e-readers? Por que não ouvir mais Vivaldi, Bach, Beethoven, Mozart, temperados com o melhor do jazz e da MPB?”

Fundamentalistas
Para mim, pior do que tudo no Facebook é a reação primária e radical de muitos internautas, grosseiros, mal-educados e sempre agressivos diante de opiniões antagônicas, simplesmente porque pensam de forma diferente dos interlocutores. E não sabem emitir opinião sem carregar nos argumentos puramente ideológicos, político-partidários e de palanque. Outras vezes partem para o ataque funda-mentalista e radical.
Para crianças e adolescentes, acredito que o Facebook esteja até causando mais problemas do que benefícios. A revista norte-americana Consumer Reports publicou, aliás, o resultado de uma pesquisa mostrando que, em maio de 2011, havia no Facebook 7,5 milhões de contas de crianças com menos de 13 anos e 5 milhões com idade abaixo de 10 anos, numa clara violação dos termos de serviço da própria rede social.

Aprendizagem
Não pensem, meus amigos, que, diante de tudo isso, eu esteja propondo qualquer tipo de censura ao Face. Não, não. Absolutamente, não. Todas essas mazelas da rede decorrem do que eu considero ser ainda uma fase de aprendizagem. Com o tempo e com a elevação dos níveis de escolaridade e de cultura, a maioria dos usuários vai aprender a usá-la melhor.
Reitero e proclamo com toda convicção: a internet deve ser mantida totalmente livre de qualquer censura, pois ela é a mais aberta e mais democrática das instituições criadas pela humanidade.
De meu lado, estou jogando a toalha. Tenho coisa bem melhor a fazer do que me irritar neste hospício digital, nesta vanity fair e neste circo de besteiras.
Give me a break, friends.

Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br