Além dos sonhos
Opiniao

Além dos sonhos

29/09/12

João que morava na periferia de Santos com sua mãe e seu irmãozinho Luca de cinco anos, depois de um ano de experiência em Fortaleza sendo guia turístico, agora estava disponível no mercado de trabalho. Havia trancado o último ano da faculdade de Sistema da Informação e possuía inglês fluente. A mãe cuidava de Luca e ainda não arrumara emprego já que tinha até a quarta série – apenas tricotava algumas toalhas de mesa e tentava vender. Como toda mulher e mãe, ela era esforçada dedicada e muito forte espiritualmente.
João procurava emprego pela internet, e de tanto mexer no computador começou a achar interessante o negócio de vender coisas através da larga rede mundial. Um dia um amigo foi à sua casa e viu um monte de gabinetes de computadores desmontados em seu quarto “João, você conserta computadores?” “É… eu fuço nos meus que estão aí…” – ele tinha três máquinas paradas, a espera de sobrevivência. “Pois eu preciso arrumar o meu e, além de não ter ninguém que conserte aqui por perto, o pessoal do centro da cidade cobra muito caro!” Despreten-siosamente aconteceu de João fazer a manutenção do computador do rapaz. O troço nem ligava. João trocou a placa-mãe, pôs uma um processador novo, trocou a memória-ram, e como o cliente gostava de mexer com vídeos e fotos na internet, instalou uma placa de vídeo mais potente; além de trocar o driver de CD. Ao entregar a máquina pronta ao colega sugeriu: “Olha, está funcionando, mas a dica é você trocar a fonte, pois como o seu hardware exige alta velocidade, a demanda de energia por ele puxada é baixa, e o cooler da fonte pode parar de girar fazendo com que o seu PC pife” explicações técnicas à parte, fato é que o colega trocou a fonte depois de algum tempo, e João mesmo que a instalou.
A vizinhança ficou sabendo da proeza de João e logo depois ele se viu a consertar computadores de todos ali na periferia. Seu quarto ficou pequeno, se alojou na garagem de um colega, cujo espaço não deu também, e então locou um pequeno espaço numa movimentada rua do bairro. Nas horas vagas – o que, mesmo nesse princípio da vida de prestador de serviços, não tinha muita – montava um site de serviços na internet. Uma coisa diferente até: era um tipo de serviço voltado para quem quisesse encontrar os comércios que não eram divulgados. Se o sujeito quisesse achar uma padaria ali pelo bairro, entrava no site do João que ia saber o endereço. Se a pessoa quisesse saber onde ficava o posto do correio, entrava no site do João que ali estava. Se fulano quisesse saber onde era a igreja, entrava no site e achava logo.
Imagine um turista, perdido querendo saber onde fica as coisas – o site de João rapidamente se tornou referência. Ele recebia ligações de turistas estrangeiros, por exemplo, que queriam saber quais palavras técnicas poderia se usar numa banca de jornal, numa drogaria ou numa estação de trem. A procura foi tanta que João começou a acompanhar turistas pela cidade também. Ele teve que fechar a empresa de manutenção de computadores, porém graças à receita desse serviço é que João teve fôlego financeiro para abrir seu site.
O negócio ficou conhecido na cidade toda, ele abriu uma loja de roupas para mãe, em que as peças eram fabricadas – no caso costuradas – pela própria dona. A loja prosperou tão logo João inaugurou um site de venda de roupas para a mãe. Com um pouco de tempo a mãe conseguiu negociar pela internet e havia marcas de tudo quanto é tipo. Para as fotografias do site, João chamou aquele colega a quem pela primeira vez ofereceu seu computador para consertar. O site cresceu tanto que agora era uma e-commerce de produtos voltados para o público feminino. A mãe vendeu a loja física e só ficou com a loja virtual, enquanto João fazia reuniões na grande São Paulo com pessoas interessadas em comprar seu negócio e, de maneira alguma ele venderia. Teve proposta de sair de Santos e se tornar sócio de grandes empresas em São Paulo, porém recusou.
Seu negócio eletrônico bairro-a-bairro ia bem e a empresa já estava posicionada no mercado como referência virtual, e os clientes faziam ótimas críticas do acompanhamento de guia – turístico, serviço esse que João chamou de personal guide. Hoje aos trinta anos João tem um apartamento no último andar de um prédio de vinte andares, com vista pro mar. A loja da mãe ia muito bem, e Luca, o irmão dez anos mais novo havia iniciado da mesma forma uma loja virtual em que vendia peças de computadores. Em pouco tempo esse se tornou referência nacional com entrega para todo Brasil.

“O tempo não é algo que pode voltar atrás, portanto plante seu jardim e decore sua alma, invés de esperar que alguém lhe traga flores” – autor desconhecido.

guilherme.lazzarini@yahoo.com.br – Publicitário e Fotógrafo