Anita Garibaldi – a Heroína de dois mundos
Luiz José M. Salata Opiniao

Anita Garibaldi – a Heroína de dois mundos

   Relembrando as relações ítalo-brasileiras, nota-se a importância que Anita Garibaldi deu ao Brasil e à Itália, pois gaúcha, ao lado de Giuseppe Garibaldi, italiano, seu grande amor e companheiro de debates políticos e lutas militares, formaram uma linda história. Nasceu Anita Garibaldi como Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva em 30 de agosto de 1821, em Laguna, Província de Santa Catarina (SC), Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, filha de Bento Ribeiro da Silva e Maria Antonia de Jesus Antunes. Os seus familiares passaram a ter dificuldades primárias no sustento da casa e mais, com as perseguições políticas do exército imperial, pois os membros da família faziam pregações com críticas ao sistema político.
   Com as famílias e parentes, gradualmente a jovem Ana Maria de Jesus foi adotando os ideais de liberdade e justiça, inexistentes à época, firmando assim o seu pensamento e temperamento de inconformação pelas dificuldades encontradas nas soluções para melhor vida. A jovem com 18 anos, já com espírito revolucionário muito forte e definido encontrou-se casualmente com Giuseppe Garibaldi, que tinha 32 anos, tendo ficado afeiçoado por ela, pela beleza incomum e muito bonita dentre as, moças de então, e com firmeza de convicções, mas não mais a viu.
   Na época, Garibaldi liderou pelo mar as tropas farroupilhas que tomaram Laguna e proclamaram a República Catarinense. Na cidade, em momento de observação com luneta pelo local, verificou um grupo de moças que passeavam, dentre elas uma cujo rosto conquistou sua imaginação e com o coração palpitante, providenciou um barco e se dirigiu para o local onde a tinha visto, porém não a encontrou. Perdendo as esperanças de encontrá-la, a vida continuou até que, um habitante local o convidou a ir a sua casa para um café, tendo Garibaldi aceitado a gentileza.
   De pronto, surpreendido constatou que a moça que lá estava era aquela que procurava, cujo aspecto já tinha se impressionado. Em momento de êxtase e coragem brotada do jovem apaixonado, bradou: virgem, tu hás de pertencer-me um dia. “…”. Ditas palavras foram proferidas em italiano mesmo, pois as palavras em português não saiam articuladas. Foi o bastante para conquistar o coração daquele tesouro de grande valor. Assim, uniram-se ao amor e na grande aspiração política de libertação com a queda da monarquia. O batismo de fogo ocorreu quando a expedição do casal foi atacada pela marinha imperial, quando a jovem confirmou a sua coragem sem fim e seu amor heroico a Garibaldi, pois atravessou uma dúzia de vezes a bordo de uma pequena lancha de combate para trazer munições em meio a uma verdadeira perigosíssima batalha naval.
   Pela demonstração de coragem e afeto ao companheiro passou a ser chamada de Anita Garibaldi. Nesse tempo, nasceu o filho do casal, Menotti, sendo que, dias depois o exército imperial cercou a casa para prender o casal, tendo Anita fugido a cavalo com o recém nascido nos braços. Em 1841, Garibaldi, Anita e o filho, mudaram-se para Montevidéu, no Uruguai. Em 1842, dois anos e meio após o seu encontro, o casal legalizou a situação conjugal, em matrimonio na Igreja de São Francisco de Assis, pois era exigência da Constituição uruguaia o casamento para aqueles que aspiram cargos públicos. No país, nasceram os filhos: Rosa, Tereza e Ricciotti. Em 1846, Garibaldi e família saíram do país, e tomaram o rumo de Nice, sob a proteção da família de Garibaldi. Em 1848, com os filhos foram para a Itália, quando ocorreu a proclamação da República Romana.
Mas, a invasão franco-austríaca de Roma, obrigou-os a abandonar a cidade. Para alcançar a vitória com a Unificação da Itália, o casal teve participação efetiva e decisiva na expulsão dos inimigos. Após largo tempo de lutas militares e padecimentos pelas intensas guerras e perseguições, o casal decidiu ali permanecer para salvar o território italiano. Anita, grávida do quinto filho, enfrentou tal situação até o fim. Com febre tifóide, Anita seguiu para as imediações de Ravena, onde morreu com a criança recém nascida, e Garibaldi deixou de acompanhar o velório e sepultamento.
Com a Unificação da Itália, Garibaldi não conseguiu localizar o corpo da amada, falecendo com 74 anos na Ilha de Catrera, na Itália. Desse modo, o resgate da vida de Anita Garibaldi, que tinha energia e a coragem pessoal aliada a um caráter resoluto e independente, pois sempre rompeu com as regras que estabeleciam a opressão feminina. Ingressava num espaço que era vedado para mulheres com os ideais republicanos, assim à frente do seu tempo.
   O legado de Anita Garibaldi é fortemente lembrado tanto na Itália e como no Brasil. O seu nome está gravado no Panteão da Pátria no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, por sua luta na Revolução Farroupilha, no Brasil, e pela luta e devoção empreendidas com seu marido, Giuseppe Garibaldi, pela Unificação da Itália, quando recebeu o cognome de Heroína de Dois Mundos, para o Brasil, a Itália e o mundo todo. Fique em paz Anita Garibaldi com as suas túnicas brancas, bombachas azul-marinho e botas pretas.