Apple consulta a Nissan para criar um carro autônomo
Opiniao

Apple consulta a Nissan para criar um carro autônomo

A Apple consultou a Nissan para seu projeto secreto de carro autônomo, mas as negociações não avançaram para os níveis decisórios superiores, por discordância quanto à marca a ser dada ao produto, pois a fabricante do iPhone, insiste que seja Apple, segundo revelaram fontes especializadas. O contato foi breve e as discussões não avançaram para os níveis de gerenciamento sênior. A Apple já havia interrompido recentemente as negociações com a Hyundai Motor da Coréia do Sul e sua afiliada Kia, enfatizando os desafios de encontrar um parceiro nessa área de veículos automotivos, conhecido como Projeto Titan. A empresa vem tentando entrar no setor automobilístico há alguns anos, associando-se com fabricantes, como a BMW, anteriormente considerados parceiros em potencial.
Mas o grupo de tecnologia mudou várias vezes a estratégia dentro de seu Projeto Titan, pois considerou a melhor maneira de entrar no mercado ferozmente competitivo e de capital intensivo para automóveis de passageiros.
As negociações da empresa do Vale do Silício com a Hyundai desencadearam um intenso jogo de adivinhação sobre quais outros fabricantes poderiam fazer parceria com a Apple, com o mercado se concentrando nas oito montadoras japonesas.
As ações da Nissan subiram 5,6% na quarta-feira, depois que o presidente-executivo Makoto Uchida sinalizou sua abertura para trabalhar com grupos de tecnologia quando questionado durante uma apresentação de resultados, sobre uma suposta associação de sua empresa com Apple. Mas uma pessoa com conhecimento das discussões disse que as negociações vacilaram depois que a empresa americana pediu que a Nissan fizesse carros com a marca Apple, uma exigência que efetivamente rebaixaria a montadora “a um fornecedor de hardware”. Muitas montadoras expressaram medo de se tornarem “a Foxconn da indústria automobilística”, uma referência ao grupo de manufatura taiwanês que monta iPhones. A Apple não quis comentar. Ashwani Gupta, diretor de operações da Nissan, disse que o grupo japonês “não está” em negociações com a Apple, cujo interesse em entrar na indústria automobilística remonta a 2014. “Temos a satisfação do cliente, que vem de carro. De jeito nenhum iremos mudar a maneira como fazemos carros”, disse Gupta em uma entrevista ao Financial Times. “A forma como projetamos, desenvolvemos e fabricamos será como um fabricante de automóveis, como a Nissan.” Para Gupta, a Nissan está aberta a explorar parcerias com grupos de tecnologia para se adaptar à mudança, em especial para veículos conectados e direção autônoma, dando como exemplos o Google e algumas outras start-ups. Mas acrescentou: “Temos que verificar quem tem a melhor competência para captar o que o cliente está pensando. Para isso, podemos fazer a parceria, mas isso é adaptar seus serviços ao nosso produto, não vice-versa.”
Analistas têm dito que a Nissan – que já tem uma aliança com a francesa Renault e a Mitsubishi Motors – pode ser uma boa opção para a Apple. A empresa japonesa foi pioneira em veículos elétricos com o lançamento do Leaf em 2010. A Nissan também tem infraestrutura industrial em suas fábricas nos Estados Unidos. O grupo, que era deficitário, mudou de foco no volume para a lucratividade.
Mas Mio Kato, analista que escreve sobre a plataforma Smartkarma, disse que a Nissan não tinha a escala de rivais, como a Toyota, para fazer o tipo de grandes investimentos necessários para a tecnologia de direção autônoma.
Alguns analistas preveem que a Apple poderá tornar-se um poderoso desafio à indústria automotiva, embora não esteja claro que tipo de tecnologia ela poderia fornecer além do poder de sua marca. A Apple vem testando há anos, na Califórnia, tecnologias de carros sem motorista ou autônomos. A empresa informou na semana passada que seus “motoristas de reserva tiveram que intervir uma vez a cada 230 km de teste”. Em contraste, o Waymo, o carro autônomo da Alphabet e o Cruise da GM, cada um, conseguiram viajar em média quase 48 mil km antes de um único “desligamento”.