Sorte! É uma palavra esquisita. Ou melhor, o seu significado é esquisito! É tão distante do mundo real que, eu sequer, saberia defini-la. A sorte inexiste, é abstrata e não acontece da noite para o dia, de modo que não é porque está escrito ‘boa sorte’ no rodapé da prova bimestral que você terá notas boas – poderia, só que não! Se não estudou, não há votos de boa sorte que faça você tirar nove ou dez. Soa-me como uma palavra jogada ao vento: Boa sorte, alguém fala quando sabe que você vai fazer uma entrevista, ou estrear uma peça teatral. Ok, é uma maneira positiva de motivar a pessoa, e vamos entender que houve um estudo matemático para se chegar na fórmula da sorte: conhecimento + oportunidade = sorte. Não é uma equação difícil, se compreendermos que você deve saber fazer a coisa para que tenha sorte.
“Ronaldo teve sorte no corinthians e em sua carreira” diriam uns. Pô, o cara é o único jogador da história do futebol a ter três títulos de melhor do mundo: 1996, 1997, 2002, pois nasceu para jogar bola, e ele teve sorte? “Shumacker tem sorte de ganhar seis vezes o campeonato mundial”. O piloto alemão tem competência, batalha e tem muita garra para estar onde está, pois não é à toa que é heptacampeão. “Antônio Fagundes tem sorte, o cara sempre é chamado pra fazer bons papeis e também sempre estreia em teatros”. Bem, o ator tem capacidade de passar o olho em textos e roteiros e memorizá-los com astronômica rapidez e eficiência – isso é sorte, ou fruto de um trabalho árduo tecido anos à fio?
Quando passei uma temporada em Nevada – EUA, onde a jogatina é legal, em todos os cassinos havia um cartaz com o rosto das pessoas que faturaram boladas milionárias nos caça-níqueis, depois, eu soube que aquilo não passava de propaganda para incentivar os azarados mais desavisados que correm o risco de, certamente, perder seus quinhões, como eu, por exemplo, pois, se cassino existisse para distribuir dinheiro, então o mesmo não teria tanta grana assim! Ou seja, você até pode ganhar algumas dezenas de dólares, mas nada que trará prejuízo ao cassino avarento.
Tampouco se nasce com a sorte. Do ponto de vista da compreensão holística desse fenômeno, quando uma criança nasce, a mãe – por um motivo qualquer – fala que o filho tem sorte, e quando essa pessoa crescer, ocasionalmente, conseguirá até achar dinheiro na rua, pois, subconscientemente, o significado daquela palavra ficou inserida na sua cabeça, ao que foi direcionada para todas as ações que ele fez e faz – o que culmina em sucesso, dando o nome a isso de sorte – talvez, ao nascer, a mãe achou que ele tivesse sorte porque veio com os olhos verde-água, por exemplo, coisa supérflua, mas que tem significado profundo ao longo do desenvolvimento do ser.
Uma das máximas da propaganda diz que a mentira falada diversas vezes torna-se verdade. Logo, por mais que o filho não seja um sortudo, ao ouvir isso da mãe repetidas vezes, dificilmente não terá sucesso na vida – e conte com a sorte, pois ela influencia no psicológico da pessoa, do contrário, essa energia não será canalizada e você viverá em revés – e isso não é nenhum segredo da vida, desvendado em best-sellers por aí.
Aí eu fui jogar na loteria, de modo que os três últimos números sorteados batiam com o que eu tinha no bilhete. -Moça, olha, acertei esses números. Como o bilhete tem código de barra, ela escaneou e disse: -Veja aí no visor desse aparelhinho o quanto você ganhou. -Quatro reais só? Mas isso está errado. No verso do bilhete diz que quem acerta três dígitos leva sessenta reais… Se um dia você adjetivar de simpática alguma moça que trabalha em lotéricas, estará, você, portanto, a elogiá-la, pois grosseria é apelido, ao que ela me disse: –Não posso fazer nada, se a máquina fala quatro reais, então é esse o valor. Não seria mais fácil ter falado que o valor acumulara e, assim, o mesmo fora divido entre os milhares de ganhadores, também? Contudo saí de lá a ponto de desconfiar que alguma porcentagem do dinheiro que eu não ganhei ficou para algum órgão que não o meu bolso – ou, que a maquininha precisava de manutenção urgente. Sorte? Bah! Prefiro acreditar na mola propulsora que me motiva a ganhar dinheiro honesto e que corresponde a cada gota do suor de meu trabalho, a que pensar que um dia eu possa ganhar na mega-sena.
Talvez eu seja cético demais para acreditar que vou acertar uma quina ou qualquer outro jogo fácil que me valha da boa sorte.
