Crônica da (des)confiança
Opiniao

Crônica da (des)confiança

Dias atrás fui até o centro de Santo André resolver algumas coisas. Deixei  o carro no pátio da prefeitura e andei alguns quarteirões até a loja de departamentos onde eu precisava ir. Demorei um pouco, pois o local estava cheio. Quando terminei não consegui ir para fora, dada a enorme quantidade de água que do céu caía. Assim que a chuva deu uma trégua andei alguns passos e parei num abrigo.
Eis que um senhor aparentemente 55 anos fez uma observação: -Forte, né? -É verdade… retruquei, Se você quer puxar assunto com alguém, fale do clima – com certeza a pessoa se manifestará. –É chuva de verão, concluí. O cara me perguntou outras coisas, engatamos um papo, eu falei que teria que ir embora e ele ofereceu: -Então eu te dou uma carona no meu guarda chuva. Achei estranho. O que ele queria? O nome dele era João e resolvi acreditar nos poucos bons corações que ainda restam nos seres humanos ao que aceitei a carona sob um guarda chuva que mal cabiam dois. Paramos no correio, pois o mudo despencava. Mais algumas conversas sobre motivos profissionais, quando ele se oferece: -Será que você poderia me dar uma carona até metade do meu caminho? Ele trabalhava com logística em uma concessionária na Av. Ramiro Coleoni, Santo André. Meu espírito é bom, de modo que aceitei a oferta dele em dá-lo a carona.
De frente à cabine de pagamento do estacionamento da prefeitura, procurei minha carteira, mas não a encontrei e, como eu havia esquecido no carro, tão logo, seu João me emprestou dez reais. -Obrigado, ao entrarmos em meu carro, te devolvo, agradeci. Todavia, mesmo achando que ele poderia ser um ladrão ofereci-lhe: -Está chovendo muito, eu te deixo no seu trabalho. Aceitou.
Deixei-o onde trabalhava e quando fui devolver os dez reais que ele havia me emprestado, recusou. -Me dá só cinco! pediu. – Que nada! Pega aí, você me emprestou! falei – Não, cinco está bom! afirmou. -Eu só tenho essa nota de dez, eu disse. E então percebi que ele estava a demorar para sair do carro “agora o maluco vai me assaltar aqui”, pensei. Na hora que ele começou a procurar algo dentro do bolso, na mala, na sacola e não achava eu imaginei que o cara ia empunhar um canivete – Desculpe, eu não encontrei cinco reais aqui comigo, ele finalizou. Senti que seu João só estava querendo ser honesto e perdoei a mim mesmo por eu ter pensado coisas ruins a seu respeito – mas é natural o ser humano antever situações desconhecidas.
Olhei no fundo dos olhos do sujeito, deixei os dez sobre sua valise e desejei bom trabalho: -Ótimas vibrações positivas pra você e vamos mentalizar sempre coisas boas. – É verdade… Todos nós precisamos disso. concluiu.
Terá sido má intenção minha achar que seu João era ladrão ou que ele gostava de molestar homens mais novos? Por quê não conseguimos confiar 100% em algumas pessoas, mesmo elas sendo boas?