Crônica da inocência
Opiniao

Crônica da inocência

15/02/14

Não importa se você é rico, gordo, feio, pobre, bonito, – a criança não enxerga essas coisas. Independentemente de sexo, religião, cor, classe social – a criança ama incondicionalmente. Se você briga com ela por causa que ela fez da panela uma bateria, alguns minutos depois, portanto, ela estará ao seu lado a solicitar-lhe atenção. Se você esbraveja só porque a criança rabiscou um documento importantíssimo que você esqueceu sobre o criado-mudo; algumas horas após ela estará com a cabeça encostada no seu ombro a pedir-lhe carinho.
Quando tornamos adultos, por vezes, ouvimos sugestões do tipo: ‘não seja ingênuo!’ – como se isso fosse a pior coisa do mundo. Absolutamente! Minha avó, por exemplo, morreu com oitenta anos sendo ingênua, viveu muito bem, e isso nunca foi uma desvantagem: minha mãe é ótima pessoa, assim como meus tios e a educação que eles receberam foi excelente.
E então o filho chega em casa a reclamar que o coleguinha da sala o empurrou, e o pai diz: ‘Não seja bobo, filho, vai lá e revide’. Pra quê? Pra gerar violência? Talvez o mais correto a fazer seja ignorá-lo de modo a não mais falar com esse “coleguinha”. Ok, a vida tem suas vantagens e desvantagens em fazer-nos aprender que, alguns momentos, não podemos ser tão ingênuos, mas a pureza do ser humano tem muito de nossa consciência. Se você achar uma carteira com cem reais e o RG, você entrega ao dono?… é a sua consciência que manda!
A criança não faz por mal, não mede controle… às vezes solta um palavrão porque ouviu alguém falar, mas cabe aos pais advertir. Já diziam grandes filósofos da época antes de Cristo: A retórica é o melhor remédio. Ou seja, fazemos valer a máxima do Velho Guerreiro: ‘quem não se comunica se estrumbica’ (sic). Até um ano de idade meu filho Pedro Henrique, 6, viveu único. Daí, vieram os gêmeos, o que reduziu em 33,33% a atenção voltada para o primogênito, de maneira que causou-lhe insegurança. Soma-se a isso o fato de termos tirado a chupeta do Pedro precocemente. Resultado: chupa dedo até hoje, entre outras características de crianças inseguras.
Tentei ensinar do meu jeito: “Pedro, a vida não é tão fácil como parece. Ninguém vai passar a mão na sua cabeça pelo resto da vida, e você nem vai ficar chupando esse dedo pra sempre. Esteja certo que a vida vai te bater, mas não importa o quanto você vai cair, importa o quanto você aguenta apanhar. Resista! Mantenha-se de pé! Força! Enfie nessa sua cabeça que você consegue e repita: ‘eu não vou chupar mais o dedo, eu vou conseguir eu vou conseguir”. E nunca, deixe os outros falar que você não pode, porque você PODE!
Após alguns segundos repetiu: “eu vou conseguir, eu vou conseguir” Funcionou, ainda que por pouco tempo, e me levou a crer que uma conversa, às vezes, basta. Isso faz com que o ser humano cresça com objetivos a cumprir.

“Primeiro a chuva, depois o arco-íris. Acostume-se com essa idéia” autor desconhecido.

guilherme.lazzarini@yahoo.com.br – Publicitário e Fotógrafo