Crônica da resistência
Opiniao

Crônica da resistência

Como todo adulto em fase inicial, Marcos não era diferente. Iniciou seus estudos na faculdade aos 18 anos e era cheio de sonhos. Já havia trabalhado como entregador de folhetos numa gráfica do amigo de seu pai, mas nada formal. O objetivo de Marcos era estagiar numa empresa, trabalhar nela durante um tempo e, em dez anos, obter um bom cargo dentro da mesma.
Existem pessoas e empresas que enxergam sinceridade como uma desvantagem, logo, o jovem tinha esse ‘defeito’, e seu argumento às empresas era: ‘Desculpe, mas não tenho currículo, nunca trabalhei, só estudo’. E, como ninguém lhe dava emprego pela inexperiência, Marcos ficou assim até o último ano da Faculdade quando conseguiu uma entrevista promissora numa multinacional. O departamento de RH disse: ‘Desculpe, mas para estagiários preferimos recrutar quem está no primeiro ou segundo ano da faculdade’.
Aos vinte e cinco ele nunca havia trabalhado numa empresa. Morava com os pais, e foi fazer um curso de web design. Marcos era esforçado e comprometido, mas mesmo com muitas características vantajosas a seu favor, ele não ia bem nas entrevistas.
A gráfica do pai de seu amigo estava a crescer muito. O gerente, um jovem de trinta anos foi quem indicou Marcos para trabalhar no departamento de computação gráfica. Essa foi a primeira porta, mas ele não sabia trabalhar. O dono da empresa foi ter com o gerente que o contratou: ‘Mas como assim esse rapaz está trabalhando aqui? Ele não sabe nada. Como ele veio parar aqui?’ questionou o dono da empresa.
‘Foi indicação de um amigo, senhor. Ele demonstrou interesse, e como é de confiança, então podemos ensiná-lo.’ Respondeu o gerente. ‘E quem vai ensinar? Você acha que temos tempo para isso?’ ‘Já planejei tudo’, afirmou o gerente, ‘Quem vai ensiná-lo sou eu mesmo e, na posição de gerente da gráfica, trabalharei doze horas por dia, sendo seis horas a ensinar o rapaz e mais seis dedicado à empresa. Entenda que, se não o ensinarmos, ele nunca aprenderá, e, se ele não aprender, será recusado por empresas que têm comportamento conservador e, como o Sr. sabe, nossa empresa sempre se diferenciou da concorrência. É mais rentável ensinar uma pessoa sem vícios que respeite nossa visão, a contratar alguém experiente, caro e cheio de manias, que não se enquadra no perfil de nossa missão.’
Marcos começou lá no início do ano e, após duas semanas, o gerente falou: ‘Marcos, nós havíamos combinado que eu te passaria tudo até o final do mês, mas minhas férias foram antecipadas. Te deixarei a cargo de nosso coordenador’. Ao que ele respondeu: ‘Não precisa, muito obrigado. Até aqui já aprendi muito nessas duas semanas, eu tenho estudado o mercado, além disso, a empresa terá que disponibilizar alguém que faria hora extra só para mim. Claro que, se eu tiver dúvidas, perguntarei. Sou grato por seus ensinamentos’.
Após muitos anos na empresa, pouco antes de completar 40, Marcos havia conquistado um cargo de direção. A gráfica cresceu mais que todas as concorrentes, se tornou a melhor empresa para se trabalhar daquele ano e até tiveram que abrir uma filial no ramo de Logística para dar conta da demanda.

“Com a força da sua mente, seu instinto e, também com sua experiência você pode voar alto.” Ayrton Senna.