Crônicas de um sábio
Opiniao

Crônicas de um sábio

Num longínquo passado havia um Sábio que adorava espalhar gentilezas e, portanto, fazia isso em forma de sugestões e ideias a fim de divulgar e semear todas as características virtuosas que um ser humano possa ter, de modo que ele dava expediente sob a sombra de uma frondosa árvore de frente para um lago. Ele era baixinho e suas longas barbas brancas lhe conferiam abundante experiência de espírito. O povo fazia fila para que ele tirasse dúvidas. Perguntou um homem:
-Senhor: Existe uma coisa na natureza que não tem razão de ser. -E o que é meu filho? – É o horizonte. É muito estranho, pois se eu caminho dez metros ele se afasta de mim, se caminho 500 metros ele vai ficando distante os mesmos 500 metros, se ando dez quilômetros, nunca vou encontrá-lo. Pra que, então, existe o horizonte mestre?
– mas é justamente para isso que o horizonte existe, meu filho… Para fazê-lo caminhar.
O próximo na fila era alguém com muita inveja do sábio e estava ali para insultá-lo, ao que falou palavras de baixo calão, atirou pedras em sua direção, cuspiu ao chão, ameaçou de batê-lo, deferiu calúnias, enfim, desconcertou e tentou destruir a figura daquele bom velhinho. Ao final, o homem foi embora sem justificativas, de modo que o Sábio manteve-se imóvel o tempo todo. Os próximos da fila estranharam tal comportamento, e um viajante que viera de tão longe quis saber:
-Mestre, eu venho de um lugar que só tem pessoas mau-caráter, inescrupulosas e sem educação. Qual o tipo de pessoas que posso encontrar neste vilarejo? -As mesmas que habitavam o local de onde você saiu.
O outro perguntou: – E eu venho de um lugar onde as pessoas são boas, respeitosas e muito alegres, qual tipo o de pessoas deste povoado, mestre? -As mesmas que você encontrou por lá.
E os dois indagaram como era possível dar a mesma resposta para perguntas diferentes, eis que ele sentencia: – Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou, não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também os encontrará aqui. Todo homem é um milagre e traz em si uma evolução.
No dia seguinte a agenda estava reservada para um comício nas montanhas. E o Mestre perguntou ao povo: – Senhores, se alguém chega até vocês com um presente, e vocês não o aceita, a quem pertence o presente? E alguém responde: – A quem tentou nos entregar, Senhor. E referindo-se ao acontecimento do homem de pouca educação que lhe faltou com respeito no dia anterior, o Sábio conclui:
-O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos. Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo. Vossa paz interior depende exclusivamente de vocês. As pessoas não podem lhe tirar a calma. Só se vocês permitirem.