Crônicas do egoísmo
Opiniao

Crônicas do egoísmo

O cérebro humano evolui de forma a sempre advogar a favor de si próprio. Somos os mais devotos defensores de nós mesmos. A primeira reação ao sermos confrontados com o fato de termos feito algo ruim é tentar convencer a nós mesmos e, depois aos outros, de que aquilo não foi tão grave. A segunda reação é transferir a responsabilidade para terceiros.
Era uma vez um líder de uma tribo que tinha um falcão como amigo. A tribo vivia da caça para comer e conquistava territórios por meio de lutas físicas ou empunhados de instrumentos bélicos.
Certa feita quando a tribo saiu caçar, andaram por todo o vale e montanhas. Os membrosse espalharam mata adentro, e o líder da tribo em dado momento também se viu sem a companhia dos soldados, mas a ave, o falcão estimado, estava com ele.
O caminho que o líder escolheu para não voltar de mãos vazias incluía passar pelo deserto, foi quando em determinado momento, no fim daquela tarde quente, ele avistou uma encosta rochosa por onde pingos d`água gotejavam, ao que sacou seu cantil e o posicionou para que enchesse. Depois de muito esperar, o líder já estava a levar à boca e foi quando seu gavião, num voo rasante, encostou em sua mão e derrubou a água.
– Seu falcão malvado. Por que agiste de tão absurdo ato?
E eis que o homem, novamente, encheu seu cantil gota a gota e quando estava a beber, sua ave de estimação derramou pela segunda vez.
– Não te atrevas a fazeres isso de novo, senão passo-lhe o facão e você não mais me perturbarás.
De modo que o moço estava com tanta sede que, dessa vez, não esperou encher tudo e, quando a água estava na metade do recipiente e se preparava para beber, o falcão desperdiçou o líquido novamente. O líder enfurecido não aguentou e lhe passou o facão. O pássaro jazia morto no chão do deserto. Pensou:
– Quer saber, vou escalar esse desfiladeiro todo e beber direto da fonte de onde sai essas gotas e então tomar quanta água eu quiser.
Ao chegar no topo, cansado, suado, sem energia, viu de fato o poço de água, com o detalhe que ali boiava uma falecida serpente cujo veneno se misturava à fonte.
– Puxa vida, o falcão até tentou me avisar, mas eu o ignorei, agora fiquei sem ele e vou ficar sem a água também.
Nosso cérebro sempre nos quer fazer acreditar que se agimos mal foi porque fomos provocados. A maioria dos indivíduos que comete atos perversos, infelizmente não enxerga a maldade.

“Todos conquistam o que desejam, mas nem sempre se satisfazem com isso” – do filme As Crônicas de Nárnia