De minha mãe Odette
Opiniao

De minha mãe Odette

Dia 30 de julho minha mãe Odette Tavares Bellinghausen, e todos nós, sua família, estaríamos comemorando seu aniversário. (Nascida em 1915). Vou aqui recordar em homenagem a ela, sua poesia, tão atual, apesar de a ter escrito em 1977. Sempre… agradecida pelo carinho dos leitores, muitos, meus amigos invisíveis.
Um abraço, Didi
  
BOM DIA, ALEGRIA!
Foi sem querer que eu disse estas palavras
Ao dia luminoso e ensolarado que surgia!

Um céu azul com nuvens caprichosas,
O riso das crianças;
O chilrear das aves,
As papoulas entreabertas,
Salpicadas de orvalho, (o seu banho de chuveiro…)

As abelhas irreverentes,
A sugar o néctar das rosas…
(elas não sabem que as rosas são rainhas…)
Borboletas aos pares, em seu doido bailado matutino,
E o som da “Pastoral”, vibrando pelo ar….
     (Beethoven amava a natureza!)
 
Deslumbrada com tanta beleza e harmonia,
Pensei:-Oh DEUS! Que mundo esplendoroso
Tu nos deste! Como é bom viver!

                            / / /
E o dia foi passando…
E a miséria humana aparecendo…
Mulheres famintas mendigando,
Com pencas de filhos de olhos tristes e fundos…
Os velhos sem amparo e sem carinho,
Os homens sem emprego, maltrapilhos,
Pedindo o pão amargo das esmolas…
 
Pego um jornal…Crimes e roubos,
Os mais cruéis e desumanos;
Sequestros, desastres e assaltos,
Guerra entre irmãos na Irlanda, Irmãos em Cristo

Guerra na Arábia e Israel… (Terra de Cristo!)
Guerras por toda à parte! Pela Democracia!
(O tal Governo do Povo, para o Povo, pelo Povo!…)
Tão deturpado pelo próprio Povo!
 
Poluição na terra, no ar, no mar…
O Homem destruindo a Natureza!
O Bicho-Homem devorando toda a fauna!
(Mas “depois” os vermes o devoram…)
Queimando as florestas, puras, verdejantes,
E em seu lugar construindo monstros
De cimento armado, ou fábricas de chaminés

Vomitando gazes venenosos…
Horrorizada eu pergunto: –
-Meu DEUS! Que mundo é este?
Teria sido aqui mesmo o Paraíso?

                               / / /
A meia noite vou dormir,
E, sem querer murmuro: –
-Boa noite, Tristeza…
 Odette Tavares Bellinghausen