Falar dos outros é fácil, difícil é viver a vida que levam
Opiniao

Falar dos outros é fácil, difícil é viver a vida que levam

-Iaí Elias? Como está indo a obra? Pergunta o engenheiro para o mestre de obras, cuja equipe de trabalhadores constrói um prédio de três andares. – Está indo tudo ok, senhor. Nisso o engenheiro avista, há uns cinco metros dali, um rapaz sentado num latão de tinta e questiona: -E aquele ali, quem é? –Ah, sim, é o Paulo, é o rapaz que o senhor contratou para acelerar a obra. Eis que o engenheiro vai até ele, cutuca seus ombros e alerta: – Ei, porquê você está aí parado? Não é pra ficar sentado não, é pra trabalhar, vamos.
Paulo era muito quieto e sempre vivia com sono, mal dava bom dia para os outros colegas. – Então, você não acha que aquele cara novo ali é meio estranho, não? Pergunta um peão a outro. – Com certeza! O cara não fala com ninguém! Os dias passavam e os outros pedreiros sempre faziam chacota dele. Quando Paulo carregava um saco de cimento alguém o abria a fim de cair no chão e o mestre de obras ficava bravo com Paulo que sofria bullying dos colegas de trabalho. Colocavam água em seu capacete, jogavam areia dentro de sua bolsa, faziam de tudo com aquele rapaz que não se enturmava.
Certa feita o engenheiro chega e flagra os peões a trabalharem de modo lento, Paulo, em particular, este dormia curvado sobre seu capacete vermelho. – Vamos rapaz… o engenheiro deu uns tapinhas nas costas de Paulo. -… Acorda… Aqui não é lugar de dormir!
De maneira que, ao final do dia, o engenheiro propõe: – Escutem aqui, o negócio é o seguinte, se vocês terminarem o primeiro pavimento ainda nessa semana, eu vou dar um churrasco pra todo mundo e ainda entregarei uma picanha pra cada um a fim de levarem pra casa, fechado? Todos concor-daram, de modo que a ameaça saudável surtiu efeito, já que o evento regado às cartas e cervejas realmente aconteceu. Então o engenheiro chama o mestre de obras para um canto e quer saber: – Como está o Paulo, hein? – Pois é… Ele é meio caladão, mas trabalha bem. – ok, então escuta só… Sussurrou o engenheiro em tom de brincadeira: -Vamos pregar uma peça nele, a gente pega todo o resto de comida que sobrou do churrasco e dá pro Paulo, beleza? -Bem… Olha… Começa a gaguejar o mestre de obras: –Isso não se faz, né? E então o engenheiro retruca: –Ah, qualé… Isso é só uma brincadeira, cadê seu espírito brincalhão?
Acordo feito, o engenheiro anuncia: -Pessoal, pessoal, como eu sou um cara de palavra e prometi a cada um que entregaria as picanhas, então eu quero que façam uma fila aqui na minha frente. Tudo distribuído, um estava a faltar. –E pra você também, Paulo. Ele estava esquecido lá num canto quase dormindo. –Venha até aqui, sim?
Paulo recebe um grande prato coberto com alumínio, mas ele sequer sabia que ali só havia ossos de frango, gordura de carne, alface que não comeram e afins. Quando Paulo pega sua ‘iguaria’ antes de abri-la, todos começam em coro: – Discurso, discurso… E eis que ele fala pela primeira vez:
-Olha… Muito obrigado pessoal… Eu peço desculpas se não tenho me enturmado com vocês, ou se tenho sido um pouco tímido… E, olhando para o engenheiro, continua: – …principalmente o senhor que tem bom coração e me deu este prato de comida aqui. E então volta a olhar para todos: –É que eu tenho três filhos em casa, eles são pequenos, minha esposa tem uma doença que ela não sai da cama e não pode trabalhar e nem cuidar dos filhos, então quando eu chego, eu não durmo, pois tenho que estudar com os meninos, dar banho, coloca-los para dormir, trocar fralda, preparar leite… e, às vezes, tiro uma soneca aqui porque fico cansado. Em casa não temos nada pra comer, sempre falta de tudo, mas agora que vocês me deram esta comida aqui, meus filhos ficarão felizes… O engenheiro pede a marmita de Paulo de volta, e sugere a todos: -Quem quiser pode doar seu pedaço de picanha ao Paulo. Todos fizeram.

“A honestidade não deveria ser um diferencial e, sim, caráter básico do ser humano” – autor desconhecido