Hospitais públicos da Grande SP têm taxas de óbito por infarto acima de 14%
Saúde

Hospitais públicos da Grande SP têm taxas de óbito por infarto acima de 14%

Dos 94 hospitais públicos na Grande São Paulo e litoral, 38,29% (36 unidades) acusaram percentuais de óbitos por problemas cardíacos superiores a 14%, índice considerado muito elevado pelos especialistas. O levantamento é do Projeto Infarto da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, que existe há mais de dez anos com o objetivo de padronizar protocolos de atendimentos de emergência e assim minimizar os números de mortes por infarto no Estado de São Paulo.

Neste ranking constam hospitais estaduais e municipais de São Paulo, Guarulhos, Barueri, Osasco, Diadema, São Bernardo, São Caetano, Santo André, Santos e Santana de Paranaíba. Os dados inéditos, que acabam de ser coletados, estão sendo apresentados no Congresso da entidade que começou, na quinta (8) e segue até sábado (10), no Transamérica Expo Center, em São Paulo.

Em relação às internações por doenças cardiológicas, o Hospital Municipal de Barueri Doutor Francisco Moran (foto) registrou o percentual de mortes mais elevado: 28,33%. Em segundo lugar o Hospital Katia de Souza Rodrigues, no bairro de Taipas, em São Paulo, com 26,57%, e em terceiro o Conjunto Hospitalar do Mandaqui, também na capital paulista, com 23,7% de vidas perdidas por patologias do coração.

“Principalmente hospitais com volume de atendimento elevado precisam mudar a conduta para emergências cardíacas”, afirma Luiz Antônio Machado Cesar, ex-presidente da SOCESP, professor associado de Cardiologia da USP e um dos conferencistas do Projeto Infarto. “Por isso, vamos iniciar um trabalho no Hospital do Mandaqui para entender o que está acontecendo por lá e do que precisam para reduzir estes índices.” De 2010 a 2020 as mortes por infarto no Mandaqui só estiveram abaixo de 14% em 2011 (8,33%).

Reciclagem profissional e conduta padronizada

De acordo com dados da SOCESP, doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de 30% de todas as mortes no país, o que corresponde a 400 mil óbitos por ano. Além disso, para a Organização Mundial da Saúde (OMS), países emergentes, como o Brasil, tendem a piorar estes índices em curto espaço de tempo. “O Projeto Infarto prova que mesmo iniciativas básicas, que não requerem altos investimentos em tecnologia, podem ser efetivas para diminuir essas mortes”, diz o conferencista do Congresso da SOCESP.

O projeto é realizado em parceria com o COSEMS (Conselho de Secretários Municipais de Saúde) e com a Secretaria Estadual de São Paulo e contempla o treinamento de médicos e enfermeiros para o correto manejo da emergência cardiovascular, com ações padronizadas e alertas de procedimentos passo a passo, considerando os sintomas apresentados.

“Entre maio de 2010 e dezembro de 2013 – utilizamos um programa para equipes de cinco hospitais com mais de 100 pacientes internados/ano por infarto agudo e com pelo menos 15% de mortes hospitalares relacionadas ao problema”, explica Luiz Machado Cesar. Cursos on-line, eventos presenciais para até 400 participantes, folders e panfletos informativos integram a lista de atividades contempladas.

Segundo o cardiologista, nestas fases iniciais cerca de 200 médicos e 350 enfermeiros participaram de pelo menos um treinamento. “Inicialmente, muitos médicos do pronto atendimento não reconheciam um infarto no eletrocardiograma, mas a tele-eletrocardiografia passou a ser usada em algumas emergências para o diagnóstico rápido e preciso.”

 

Após essas iniciativas, a taxa de mortalidade em cinco hospitais da região metropolitana caiu de 25,6%, em 2009, para 18,2% em 2010. Depois da conclusão do treinamento, as mortes cardíacas em todos os hospitais públicos de São Paulo diminuíram de 14,31%, em 2009, para 11,25%, em 2014. “A conclusão é que mesmo orientações simples são capazes de minimizar significativamente as mortes por infarto em países em desenvolvimento.”

Na outra ponta, o projeto também disponibiliza programas de conscientização para o público, pontuado sobre os fatores de risco para o coração: estresse excessivo; sedentarismo; tabagismo ou exposição à nicotina; obesidade; consumo excessivo de álcool; colesterol elevado; diabetes; hipertensão e qualidade do sono.