Inflação – o temor da volta
Opiniao

Inflação – o temor da volta

Há exatos oitos anos a preocupação dos brasileiros era o novo governo de Luiz Ignácio Lula da Silva que assumiria em ja-neiro de 2003 e o vigoroso retorno da inflação que alcançou os dois dígitos, rodando na casa dos 11% no ano, e as previsões mais pessimistas que davam conta que no final de 2003 o índice bateria nos 30%. Na época projetavam-se dois cenários para 2003, um do bem e outro do mau para a economia.

O do bem projetou, a estabilidade cambial com o dólar valendo R$ 3,60 que era o patamar do momento para o fim de 2003; safra recorde e o provável recuo das cotações internacionais dos produtos agrícolas, tais como, a soja, café, açúcar e milho (que haviam sido em grande parte os vilões pela escalada da inflação em 2002); combate da inflação nos primeiros dias do governo com a manutenção dos juros altos, se necessário, e controle de gastos; Meta de superávit comercial de 15 bilhões de dólares; e crescimento da economia americana de 4% no ultimo trimestre de 2002 o que trazia a expectativa do retorno dos investidores nos paises emergentes.

Pelo lado do mau, previa-se que: Se o governo não conseguisse fazer as reformas estruturais da Previdência, Tributária e Trabalhista (ainda pendentes), cairia em desconfiança; pressão cambial, isto é, dólar continuando alto e pressionando os custos dos insumos dos produtos básicos; pressão popular para a baixa dos juros; tentativas de tabelamento de preços de cima para baixo, o que poderia ocasionar reajustes de preços preventivamente pela indústria e comércio e o fantasma da indexação de preços e salários.

No inicio deste atual governo as preocupações e projeções pelo retorno da escalada inflacionária em nada mudou em relação aos noticiários lá dos idos de 2003, contudo se forem comparados os cenários de ontem com os de hoje, a tarefa atual de se manter a estabilidade da meta do índice de inflação acumulado de 4,5% para 2011 torna-se bem mais complexa, dado ao conjunto macroeconômico global como as crises vividas pelos Estados Unidos, Europa e Japão e as peripécias cambiais chinesas, somadas ao nosso baixo índice de investimentos em infraestrutura em função da necessidade da manutenção da elevada taxa de juros real da economia.

Se não houver um rigoroso corte e controle dos gastos de custeio governamental e as necessárias medidas para o equilíbrio cambial em relação as demais moedas, a única coisa a fazer é rezar, conforme recomendou um repórter de TV nesta semana sobre a solução para as tragédias das enchentes, por tratarem-se de tarefas de complexidade muito semelhantes.

Cassio José Suozzi de Mello é contador, economista, advogado e sócio da Suozzi Mello Auditores Independentes.