Inovação no século 21
Opiniao

Inovação no século 21

No passado, os pesquisadores trabalhavam praticamente isolados, ou em grandes equipes, mas confinados nos laboratórios de corporações gigantescas. Seu contato com outros cientistas e empresas era, na melhor das hipóteses, esporádico, em eventos internacionais.
A grande mudança que revoluciona a pesquisa científica e tecnológica em todo o mundo neste início de século 21 é a passagem da inovação individual para a inovação colaborativa centrada em redes. Hoje tudo é diferente, graças ao relacionamento e ao contato permanentes entre cientistas de todo o planeta. O velho modelo dos grandes laboratórios de pesquisas das grandes corporações, como AT&T, Xerox ou IBM, foi inteiramente superado pela inovação centrada em redes.

Edição brasileira é da Editora Évora
Esse é, aliás, o tema central do livro Cérebro Global – Como Inovar em um Mundo Conectado por Redes, escrito pelos professores Mohanbir Sawhney e Satish Nambisan, e que acaba de ser lançado em tradução brasileira pela Editora Évora.
Os autores Mohanbir e Satish – eles preferem ser chamados por seus prenomes – têm um brilhante currículo acadêmico e profissional. Mohanbir leciona na Kellogg School of Management, da Northwestern University, em Evanston, Illinois, nos Estados Unidos. Satish é professor de gestão e estratégia de tecnologia na Lally School of Management, do Rensselaer Polytechnic Institute, de Nova York.
O professor Mohanbir esteve em São Paulo há duas semanas, para participar de evento da HSM, tendo proferido palestra para 600 executivos e empresários exatamente sobre o tema da inovação colaborativa. Depois de ler o Cérebro Global e entrevistar seu autor, estou convencido de que leitura desse livro poderá contribuir significativamente para mudar não apenas a visão de empresários e executivos sobre o papel das redes no processo de inovação mas, também, revolucionar o próprio futuro de muitas empresas brasileiras.
O título Cérebro Global é uma imagem que me parece muito feliz para representar a massa de conhecimentos de todas as nações que se torna acessível por intermédio da colaboração centrada em redes.

A grande tese
Não há dúvida de que o cenário deste início de século 21 é marcado pela colaboração cada vez maior e mais intensa entre cientistas que trabalham em áreas afins ou inter-relacionadas. Vivemos, sem dúvida, a passagem da inovação individual, resultante do trabalho isolado de cientistas e pesquisadores, para a inovação colaborativa centrada em redes.
Um excelente sumário das teses centrais do livro está no prefácio norte-americano, escrito por Nick Donofrio, ex-vice-presidente de Inovação e Tecnologia da IBM, para quem a inovação se torna cada vez mais global, multidisciplinar, colaborativa e aberta. Tais características mostram as profundas diferenças entre as condições em que se as empresas inovam no século 21 e o modo como o faziam no século passado.
O grande problema para as empresas é que a globalização e a internet trouxeram desafios para os quais a maioria das corporações não estava preparada. Daí a necessidade de reflexão permanente sobre a temática do livro dos professores Mohanbir e Satish. Os autores oferecem um conjunto de propostas para que as empresas passem do antigo paradigma de inovação própria para o novo paradigma da inovação colaborativa.
O texto do livro Cérebro Global está dividido em cinco partes: I) Da inovação interna à inovação centrada em redes; II) O cenário da inovação centrada em redes; III) Os quatro modelos de inovação centrada em redes; IV) Executando a inovação centrada em redes; V) A inovação centrada em redes e a globalização.
Ah, os políticos

Mohanbir Sawhney
Perguntei ao professor Mohanbir quais seriam, em sua opinião, as boas coisas que governantes e políticos poderiam aprender num mundo que se torna cada dia mais colaborativo. Sua resposta foi franca e direta: “Poderiam aprender muita coisa, mas, infelizmente, tudo que aprenderam até agora foi muito pouco. Se explorassem a fundo a colaboração em toda a sociedade, governos e políticos poderiam aprender muito mais coisas. No entanto, para ser um pouco mais otimista, devo reconhecer que já surgem alguns poucos exemplos que nos dão alguma esperança, como é o caso das parcerias público-privadas”.

Satish Nambisan
E exemplifica: “Um caso interessante é o de um projeto na área de governo eletrônico no Reino Unido, que torna possível a qualquer cidadão ou entidade encaminhar sugestões de projetos de lei ao gabinete do Primeiro Ministro, e submeter o tema a debate prévio num site especial, com a garantia de que o assunto será analisado e debatido pelo Parlamento. Como as redes sociais ampliam sempre mais o espectro de participação e de colaboração dos cidadãos, os representantes da sociedade podem avaliar com maior acuidade suas necessidades e aspirações. É uma forma de democracia participativa e colaborativa”.
Não tenho mais dúvidas de que as ideias dos professores Mohanbir e Satish, expostas no livro Cérebro Global, comprovam de forma cabal e definitiva que a grande alavanca da inovação é hoje a colaboração proporcionada pelas redes que interligam a humanidade.