Irmãos de sangue
Opiniao

Irmãos de sangue

Na roda de amigos meus, no hall de conhecidos, no círculo de pessoas próximas, preciso fazer um esforço grande para saber quem tem três filhos na fase de inocência infantil, como eu. Ninguém é tão louco. Os mais conservadores diriam: – Tá vendo, não pensou antes de fazer, agora aguenta. A maioria elogia: -Parabéns! Nossa que lindos… Os mais transparentes tentam amenizar: -Puxa que coragem, hein? Porém, os mais honestos e amigos mesmo dizem: -Bem feito, tá lascado… é fato que concordo com todas as afirmações acima. Não manifesto nem um pingo de vontade em deixar a casa bagunçada, de modo que minha esposa perde muito tempo em organizá-la. Vou trabalhar enquanto ela fica com a moça que nos ajuda. É uma anarquia geral, não dá para vencer crianças que e exalam energia pelos poros, e o jeito é deixá-los desorganizar tudo e, quando estiverem cansados quase a dormir, taí a deixa para colocar os brinquedos no armário, varrer o chão, tirar as roupas do caminho, enfim arrumar a casa. Os três se educam ao mesmo tempo, eles brincam uns com os outros de pega-pega, esconde-esconde, carrinho, boneca, televisão, gibis, até colher de pau e vasilhas plásticas se transformam em peças lúdicas.
Dia desses Luciana levou Pedro à escola e Lara a acompanhou. Lorenzo ficou em casa a fazer o que gosta muito: dormir. Quando Luciana parou o carro na frente do portão, Pedro começou a chorar. Ele pensou: -Por que Lara vai ficar aí no carro com mamãe e eu tenho que ir pra escola? Ela vai num lugar mais legal que eu, e quero ir junto. Vou chorar pra ver se funciona. Irmão que se criam juntos, choram na mesma hora, e foi o que aconteceu. Lara pensou: -Por que Pedro vai entrar aí e eu tenho que ficar no carro? Ele está num lugar mais legal que eu, e quero ir junto, vou chorar pra ver se dá certo. Tudo resolvido depois de um tempo, o Pedro entrou feliz e até saiu a correr pela quadra. Minha esposa foi com a menina na feira, e na loja onde é cliente.
Quando Pedro chegou da escola, lá pelas seis da tarde, Lara o abraçou como não se viam há anos, e Pedro falou. -Mamãe, vou cuidar dela. Quando cheguei do trabalho às dez da noite, somente minha esposa estava acordada, ela me contou essa história e cheguei a conclusão que, pra falar a verdade, eles não queriam ter se desgrudado.

“A vida é a espera da morte. Faça da vida um bom passaporte.”  – Vinícius de Moraes