Jornal impresso tem mais cinco anos de vida (fim)
Opiniao

Jornal impresso tem mais cinco anos de vida (fim)

24/11/12

A nuvem é, na verdade, muito mais do que um sistema de armazenamento de capacidade ilimitada. Só o Google já guarda mais de 800 trilhões de páginas em milhares de datacenters em todo o mundo. Melhor seria compararmos a nuvem a um imenso computador virtual à nossa disposição, como sugere o canadense Don Tapscott.
E as redes sociais? Mesmo sabendo que o Facebook já alcança mais de 1 bilhão de usuários, ainda há quem duvide do poder dessas redes. O fato essencial é que elas multiplicam por mil a capacidade de interação das pessoas. Tenho mais de 5 mil amigos que interagem comigo no Facebook quase todos os dias. Mais de 80% das empresas do mundo desenvolvido já utilizam intensamente essas redes – Facebook, Twitter, LinkedIn, Flickr, Orkut, MySpace, Twitter, Badoo e outras.O essencial nesse processo é pensarmos na ação simultânea e no poder de transformação dessas quatro forças tecnológicas.
A notícia-tartaruga
Confesso, meus amigos, que atualmente só assino jornais impressos por puro saudosismo. Ou sentimentalismo profissional. Querem o exemplo mais recente da impossibilidade de competição entre o jornal impresso e o digital? Às 7 horas da manhã desta quarta-feira, dia 7 de novembro de 2012, no momento em que eu escrevia este artigo, nenhum grande jornal brasileiro havia dado a notícia mais relevante do dia: a reeleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, notícia, aliás, que milhões de pessoas já haviam lido quatro horas antes na internet.
Nessa passagem crucial do mundo analógico para o digital, o velho jornal parece um avião que perde altura em meio à maior turbulência e corre o risco de espatifar-se contra uma montanha em lugar de pousar suavemente. Esse desastre pode até acontecer, diante da conjuntura de fatores adversos que inclui desconhecimento da rota, baixa visibilidade, falha de instrumentos, panes sucessivas e o maior de todos: o despreparo do piloto.

Como chegar lá?
Mais do que nunca, nestes tempos de profundas mudanças tecnoló-gicas e de outros paradigmas, a sobrevivência da empresa jornalís-tica está profundamente ligada à qualidade de seus veículos. Muito mais do que no passado, a vitalidade e a sobrevivência do jornal decorre da credibilidade de seu noticiário e de seus editoriais. São essas características que podem assegurar uma transição relativamente segura do jornal impresso para o digital.
É claro que, além da qualidade do jornal, o sucesso das empresas jornalísticas nessa transição depende de novas estratégias econômicas e de mercado, como a diversificação dos meios (crossmedia), em busca não apenas de novo modelo de negócios, mas de novos produtos e serviços de informação, com a maior credibilidade e a confiabilidade. Embora pareça muito difícil, essa passagem é viável.
E é bom lembrar que jornal impresso em papel é apenas um formato. Não é esse material que caracteriza a essência do jornalismo. Como veículo noticioso e informativo, o jornal não precisa ser de papel de celulose, papel eletrônico ou qualquer outro material. Pode ser intangível e virtual.
Os maiores jornais do mundo já chegaram à conclusão inelutável de que o velho jornal impresso não terá condições de sobrevivência até o fim desta década. Mais de 2 milhões de pessoas leem exclusivamente a versão digital do New York Times em todo o mundo. A grande luta desse grande jornal é a busca de um modelo de negócios que viabilize sua economia no mundo digital.
O pior caminho para todos os jornais que lutam por sobreviver como empresas é aceitar a queda de qualidade como consequência supostamente inevitável da redução de custos operacionais. É essa política que leva à mortalidade precoce das maiores empresas jornalísticas e nos impõe uma solução terrível: a ascensão de empresas virtuais gigantescas – como o Google –, sem tradição ética nem compromisso com os valores consagrados pelo jornalismo. Outro risco é a murdochização da imprensa em todo o mundo. É claro que me refiro ao magnata Rupert Murdoch. E saibam que ele já ronda o mercado brasileiro.
O maior perigo que ameaça as grandes empresas jornalísticas no Brasil é morrer na praia e não viabilizar a sobrevivência, não desembarcar no novo mundo do jornalismo eletrônico, virtual, global, local, ubíquo, instantâneo, online.
Já disse e repito aqui que o maior prejuízo para o Brasil e para o mundo civilizado é a falência das corporações responsáveis pelos jornais que ainda circulam. Essa falência significa, acima de tudo, a dispersão das melhores equipes profissionais, a perda da maioria de seus talentos e a desestruturação de um setor.
Vamos debater mais esse tema?

Ethevaldo Siqueira, colunista do Estadão (aos domingos), é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br