Jornal impresso tem mais cinco anos de vida (I)
Opiniao

Jornal impresso tem mais cinco anos de vida (I)

17/11/12

O jornal impresso não tem mais do que cinco anos de vida. O modelo econômico e industrial em que ele se apoia está desmoronando sob o impacto simultâneo de quatro forças tecnológicas muito conhecidas do mundo econômico e empresarial: internet, mobilidade, computação em nuvem e redes sociais. É possível, porém, que outros tipos de publicações impressas sobrevivam por mais tempo, como veículos de análise, tendências e debates, no formato de jornais ou revistas.
Para as empresas jornalísticas, o maior desafio desse período de transição é viabilizar economicamente a passagem do jornal físico para o jornal virtual. A primeira impressão é de que cruzar esse abismo sem sucumbir é quase um milagre. Sou mais otimista. O que me parece absolutamente claro é que a migração analógico-digital não poderá ser realizada, de modo nenhum, com a degradação da qualidade que hoje ameaça a maioria das redações de jornais.
Expliquemos melhor: jornais medíocres morrerão mais cedo do que se espera. A causa mortis das maiores corporações jornalísticas não se origina apenas da falta de novo modelo de negócios, mas, principalmente, do retrocesso nos padrões de qualidade da imprensa tradicional.
É claro que a morte do jornal impresso não significa o fim do jornalismo. Ao contrário. Como atividade cultural, política, econômica e industrial o jornalismo nunca morrerá. Acho até que poderá revigorar-se e ganhar novos horizontes. Para tanto é essencial que as corporações que vão conduzi-lo cheguem vivas do outro lado do abismo, onde se encontra o novo mundo digital.

O que inviabiliza o velho jornal
A maior ameaça à sobrevivência do velho jornal é, sem dúvida, a mudança de paradigmas tecnológicos e econômicos. É ela que condena ao desaparecimento, de forma inapelá-vel, a imprensa tradicional que tanto amamos, mas que se mostra tão lenta e incapaz de reinventar-se.
Por seus custos industriais e logísticos – como os da matéria prima, impressão e distribuição –, não pode, nem de longe, competir com a rapidez, a disponibilidade instantânea e a quase gratuidade da informação virtual.
O jornal impresso em papel é, portanto, um modelo superado, obsoleto e inviável diante jornalismo eletrônico, cada dia mais ágil, mais barato e abrangente. Os jornais do futuro serão, também, exemplos perfeitos e acabados de ubiquidade, pois poderão ser acessados a qualquer hora, em qualquer lugar. Ou, para usar o jargão internacional, anytime, anywhere.
As quatro alavancas tecnológicas mencionadas na abertura deste artigo – internet, mobilidade, nuvem e redes sociais – que hoje atuam, simultaneamente, sobre as empresas jornalísticas tradicionais inviabilizam seu velho modelo industrial e de negócios. Vejamos de que forma cada uma dessas alavancas impacta o jornalismo tradicional e suas corporações.
A internet tornou-se, em pouco mais de duas décadas, uma rede global cada dia mais densa e capilar, alcançando mais de 2 bilhões de seres humanos. No Brasil, eram apenas 1 milhão de internautas em 1994. Hoje, são mais de 100 milhões, dos quais 80 milhões em banda larga. Mesmo com todas as deficiências e elevado preço dessa banda larga, esse alcance da internet significa um salto gigantesco, ocorrido após a privatização das telecomunicações em 1998.
A mobilidade é outra revolução em curso. Reflitamos um momento sobre seu impacto. Nos últimos 20 anos, o mundo tem vivido a explosão da comunicação móvel, que hoje alcança o total quase inimaginável de 6,4 bilhões de celulares em serviço, o que corresponde a uma densidade de mais de 90% da população do planeta. E o Brasil? Com 265 milhões de telefones móveis, ou 134 acessos por 100 habitantes, este País detém o quinto mercado de telecomunicações sem fio do mundo, atrás apenas da China, Índia, Estados Unidos e Rússia.
E as redes móveis estão em rápida ascensão. Em 2015 – ou seja, nos próximos três anos – cerca de 25% do número total de celulares do Brasil e do mundo serão smartphones. Além deles, haverá centenas de milhões de tablets ou notebooks com capacidade de comunicação em banda larga, aptos a receber o conteúdo de filmes, jornais e revistas, além de jogos, aplicativos de mil tipos nas áreas de comércio eletrônico e móbile banking, entre outros recursos.
Com o alcance planetário da internet, a informação virtual torna-se ubíqua, a custos próximos de zero para o leitor ou internauta. Como dissemos, essa rede mundial tem hoje quase 3 bilhões de usuários. Em dez anos, pode quebrar a barreira dos 6 bilhões, o que significará uma densidade próxima de 80% da população da Terra.        
E a computação em nuvem? Pouca gente pensa hoje no impacto da nuvem. Em 2017, a maioria dos jornais e revistas virtuais estará na nuvem. Onde estivermos, baixaremos o conteúdo desses veículos em nossos tablets, notebooks ou smartphones.  (continua)

Ethevaldo Siqueira, colunista do Estadão (aos domingos), é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br