José de Anchieta – santo, presbítero e apóstolo do Brasil (I)
Luiz José M. Salata Opiniao

José de Anchieta – santo, presbítero e apóstolo do Brasil (I)

Para quem se dirige para a Baixada Santista ou retorna para a Capital e adjacências, percorre a Via Anchieta, simplesmente assim denominada, mas que, conforme se percebe a maioria dos usuários desconhece a razão de tal. Pois bem, se trata da figu-ra carismática do Santo, Presbítero, Apóstolo do Brasil e o Santo Padroeiro do Brasil. Simples assim? Não, pois o percurso feito pelo religioso, o maior catequisador aos índios revela as suas longas e brilhantes atuações por onde percorreu em várias partes do Brasil, as quais em que pese bem registradas na história pátria, infelizmente não lhe têm dado o valor devido pela sua dedicada pregação.
José de Anchieta nasceu em San Cristóbal de La Laguna, no arquipélago das Ilhas Canárias, Tenerife, Império Espanhol, em 19 de março de 1534, filho de João López Anchieta, de origem de Urrestila, bairro da localizade de Azpeitia, em Guipúscoa, Pais Basco e de Mência Diaz de Clavijo y Llarena, descendente da nobreza canária. Foi batizado em 07 de abril de 1534. Foi um padre na Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, atual Catedral de San Cristóbal de La Laguna, onde ainda existe a pia batismal de calcário vermelho. A sua certidão de batismo, preservada, está inscrita no Livro I da Igreja dos Remédios no Arquivo Histórico Diocesano de Tenerife, onde ali se lê: José, filho de Juan de Anchieta e sua esposa foi batizado no dia 07 de abril por João Gutiérrez, vigário e seus padrinhos foram Domenigo Riso e Don Alonso. O pai foi um revolucionário basco que tomou parte na revolta dos Comuneros, em 1520/1522, contra o Imperador Carlos V na Espanha e um grande devoto da Virgem Maria. Era aparentado dos Loyola, daí o parentesco de José de Anchieta com o fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola. Seu pai foi também prefeito da cidade de San Cristóbal de La Laguna. A mãe era natural das Ilhas Canárias, filha de judeus cristãos-novos, sendo o avô materno Sebastião de Llarena, um judeu convertido do Reino de Castela. Dos doze irmãos, além dele quem abraçou o sacerdócio foi Pedro Nuñes. José de Anchieta viveu com a família até os quatorze anos de idade, quando mudou-se para Coimbra, em Portugal, a fim de estudar Filosofia no Real Colégio das Artes e Humanidades, no anexo da Universidade de Coimbra.
A sua ascendência judaica foi determinante para que fosse enviado para estudar em Portugal, vez que na Espanha, à época, a Inquisição era mais rigorosa. Ingressou na Companhia de Jesus em 1º de maio de 1551, como noviço. No tempo, tendo o Padre Manuel de Nóbrega, que era Provincial dos Jesuítas no Brasil, solicitado mais braços arregimentados para as atividades de evangelização no país, o Provincial da Ordem, Simão Rodrigues, indicou, dentre outros, José de Anchieta. Ressalte-se que José de Anchieta desde jovem padecia de tuberculose óssea, motivo de lhe ter causado uma escoliose que foi agravada durante o noviciado na Companhia de Jesus. Tal situação de saúde foi determinante para que deixasse os estudos religiosos e rumasse para o Brasil, aportando em Salvador, na Capitania da Baia de Todos os Santos em 13 de julho de 1553, contando com menos de vinte anos de idade. Vindo da armada de Segundo Governador Geral do Brasil, Dom Duarte da Costa, com outros seis companheiros, sob a chefia do Padre Luis da Grã, ali ficou somente por três meses, rumando para a Capitania de São Vicente, no princípio de outubro com o Padre Jesuíta Leonardo Nunes, onde conheceria o Padre Manoel da Nóbrega e lá permaneceu por doze anos.
O Santo espanhol da Companhia de Jesus do Reino de Portugal, teve uma vida sacerdotal impecável face a sua profunda vocação humanitária, no trato e orientação com os índios. Dentre as suas inúmeras e atividades foi a de primeiro dramaturgo, o primeiro gramático e o primeiro poeta nascido nas Ilhas Canárias, o primeiro autor da pioneira gramática da língua tupi e um dos primeiros autores da literatura brasileira, pois compôs inúmeras peças teatrais e poemas de teor religioso e uma epopéia. Foi um dos fundadores das cidades brasileiras de São Paulo e Rio de Janeiro. (Continua)