Las Vegas, ano 43
Opiniao

Las Vegas, ano 43

12/01/13

Para ser vista do espaço
Da janela de meu quarto, no vigésimo andar do hotel Mandalay Bay, tenho agora uma vista preciosa de Las Vegas, esta cidade surrealista. Mais do que Nova York, é ela a cidade que nunca dorme. É exemplo do que poderíamos chamar de urbe psicodélica. Por suas luzes e a loucura de sua arquitetura, ela me parece sempre um sonho. Ouvi de um astronauta o testemunho de que, vista lá da Estação Espacial Internacional, Las Vegas é a cidade mais luminosa do planeta.
Aqui estive em 1970, quando cobri pela primeira vez uma edição do Consumer Electronics Show (CES), que já era o maior evento de eletrônica de entretenimento do mundo. As mudanças na cidade foram profundas nos últimos 43 anos. Sua população metropolitana saltou de 120 mil habitantes para mais de 2 milhões. Um aumento de quase 20 vezes. É a maior cidade norte-americana fundada no século 20 (em 1905). Turismo, jogo e entretenimento rendem bilhões de dólares por ano. A permissividade extrema lhe deu o apelido de Cidade do Pecado, ou Sin City, o que, talvez, explique o fato de ser a campeã mundial de suicídios e de divórcios.

O bizarro inevitável
Muito além do jogo, no entanto, Las Vegas tem coisas extraordinárias e surpreendentes, como os espetáculos do Cirque du Soleil, os concertos e shows de artistas famosos, a infraestrutura incomparável de seu imenso centro de convenções, de seus luxuosos hotéis e finos restaurantes. Tudo isso fez de Las Vegas um dos centros mundiais da indústria de feiras e eventos de grande porte, superando Hanôver e Frankfurt, na Alemanha.
Acabo de chegar para mais uma cobertura do CES e fico admirado diante da diferença que 43 anos podem fazer na história da humanidade. Não apenas na política internacional ou na economia, mas, em especial, na tecnologia. Voltemos a 1970 para conferir, meus amigos. Naquele ano, a humanidade não dispunha de computadores pessoais, nem de CDs, de TV digital, de DVDs, de blu-rays, de celulares, de internet, de tomografia computadorizada ou de imagens de vídeo de alta definição. Quando converso com meus netos, adolescentes, eles me perguntam, admirados: “Como era viver num mundo sem computador, celular e internet?”
Esta reflexão me veio à mente logo que o avião começou a aproximar-se de Las Vegas. Aqui estou novamente, para a quadragésima terceira cobertura desta feira de eletrônica.

Telas flexíveis para smartphones
Entre centenas de inovações que verei estão as telas flexíveis, os tabets multiformatos, os novos televisores de ultradefinição (UD, 4K) com 8 milhões de pixels, em lugar dos 2 milhões da HD normal, a tecnologia vestível (como os óculos do Google que mostram seus e-mails), os jogos na nuvem (cloud gaming), os equipamentos indestru-tíveis, o comando vocal no carro, as supertelas HD nos smartphones, a queda de preços dos televisores de LED orgânico (OLED) e toda a parafernália eletrônica para saúde e boa forma física.
Durante uma semana do CES 2013, cerca de 120 mil pessoas visitarão seus 3 mil estandes (450 dos quais de empresas chinesas), numa área total de 140 mil metros quadrados. Para atualizar conhecimentos e entender melhor as tendências, este CES nos permite ouvir palestras dos mais respeitados especialistas e entrevistar líderes da indústria sobre tudo que vem por aí na eletrônica, em especial nas áreas de mobilidade, áudio, vídeo e multimídia.
Ao longo de mais de quatro décadas, esta Feira de Las Vegas me proporcionou a oportunidade de ouvir algumas celebridades, como Akio Morita, ex-presidente da Sony; Bill Gates, da Microsoft; Steve Jobs, da Apple; John Chambers, da Cisco; Craig Barrett e Paul Otellini, da Intel; Larry Page, do Google; além de visionários como Alvin Toffler, Nicholas Negroponte ou Don Tapscott.

Tudo para ouvir os experts
Muitas vezes permaneci numa longa fila, durante três horas, em pé, com mais de 2 mil jornalistas, para garantir um lugar no auditório onde Bill Gates falaria, como keynote speaker, na pré-abertura do CES, até sua despedida em 2008, quando deixou a posição de presidente da Microsoft.
Quando olho para trás, fico impressionado com o número de inovações e de mudanças tecnológicas ocorridas ao longo de quatro décadas. A maioria dessas tecnologias e produtos foi lançada no CES nos últimos 40 anos.
Confira: em 1970, o gravador de videocassete (VCR). Em 1974, o toca-discos para laser discs, o bolachão com som digital e imagem analógica. Em 1975, o Pong, videogame pioneiro da Atari. Em 1979, o primeiro Walkman, reprodutor de fita cassete da Sony, com fones de ouvido de maior eficiência. Em 1981, câmeras gravadoras (camcorders) do formato VHS para videocassete. Em 1982, o pré-lançamento do compact disc (CD) e de seu toca-discos (CD player); o microcomputador Commodore 64. Em 1984, o Amiga, microcomputador. Em 1985, o videogame Nintendo Entertain-ment System (NES), apelidado de Nintendinho no Brasil. Em 1988, o jogo eletrônico Tetris. Em 1991, CD-i ou CD interativo. Em 1993, minidisc digital de áudio. Em 1994, receptor de televisão via satélite. Em 1995, jogo eletrônico Virtual Boy.
Em 1996, o DVD. Em 1998, a TV digital de alta definição (HDTV). Em 1999, gravador pessoal de vídeo ou PVRs (personal video recorder, ou PDR, de personal digital recorder). Em 2001, primeiro televisor de plasma. O Xbox, da Microsoft. Em 2004, bluray disc e HD-DVD, os DVDs de alta definição. Em 2005, primeira demonstração de IPTV com imagens de alta qualidade. Em 2006, Ultra High Definition TV (U-HDTV), da japonesa NHK, com 32 milhões de pixels em telões de 11 metros de diagonal. Em 2008, protótipos de TV a laser e TV tridimensional. Em 2009, protótipos de TV a LED e OLED. Em 2010 e 2011, os televisores de ultradefinição, ainda como protótipos.
Você se lembraria de tudo isso? Se quiser acompanhar as novidades esta semana, ouça meus podcasts ao vivo, na Rádio CBN, às 6h55, às 13h15 e 18h15, diretamente de Las Vegas. Superabraços para todos.

Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br