Lojas Cem celebra 70 anos com seis inaugurações
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Lojas Cem celebra 70 anos com seis inaugurações

As Lojas Cem, fundada em 1952, em Salto, interior paulista, como uma oficina de conserto de bicicleta, com o nome de “R. Dalla Vecchia”, completa 70 anos. Ao longo de sete décadas, José Domingos Alves, que começou como vendedor e, hoje, é superintendente da empresa, se orgulha em dizer que, com tantas mudanças políticas e econômicas, as Lojas Cem nunca fecharam uma loja. Alves conta, em entrevista exclusiva, as principais transformações e desafios vividos pela empresa, a entrada no e-commerce e o segredo para manter a qualidade ao longo desses 70 anos.

Folha do ABC – As lojas Cem celebram 70 anos. Ao longo destas décadas, quais foram as principais transformações, desafios e conquistas da empresa que começou como bicicletaria e se transformou em uma das maiores varejistas do país?

Domingos Alves – As transformações são enormes, uma oficina de conserto de bicicleta passar por uma transformação e, em sete décadas, chegar aonde chegou. Evidentemente, o que não mudou foi a essência. Sempre foi uma empresa familiar, que sempre preservou sua identidade, priorizando a valorização das pessoas, tanto dos funcionários como dos clientes e, com isso, foi crescendo. A primeira transformação foi sair de uma oficina de conserto de bicicleta para vender produtos. A segunda foi quando a empresa passou a financiar venda, gerando mais condições para os clientes comprarem. A outra transformação foi com a mudança de nome, passando de “R. Dalla Vecchia” para Lojas Cem, em 1975. Essa foi uma transformação definitiva, pois a partir disso, a empresa decidiu que deveria começar a crescer e sair da região. Nesta época tínhamos cinco lojas. Na década de 70, tomamos decisões importantes. Além de mudar de nome, decidimos trabalhar somente com prédios próprios e crescer de forma orgânica, sem incorporar outras empresas. Passamos também a terceirizar as entregas e decidimos que toda a linha de comando da empresa seria formada dentro da própria empresa. Todos os funcionários que ocupam cargos de comando da empresa iniciaram em outras funções. Iniciei como vendedor e passei por todas as funções até ser o principal executivo da empresa hoje. Durante essas sete décadas, passamos por mudança de regime de governo, grandes mudanças políticas e econômicas, tivemos confisco de uma poupança, dois impeachment, crises nacionais e internacionais e, com tudo isso, nunca fechamos uma loja.

Folha – Atualmente, as Lojas Cem possuem mais de 300 unidades e 11 mil funcionários diretos. Quais Estados possuem lojas? Há planos de expansão? Neste ano, ainda serão inauguradas quantas lojas?

Domingos – Vamos completar 300 lojas nos próximos dias. Até o fim do ano chegaremos a 302. Estamos em quatro Estados: São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Neste ano inauguramos três lojas e, no próximo dia (15), vamos inaugurar mais uma em Araraquara (SP). Estamos em fase de construção de uma loja em Maricá e outra em Paraty, no Rio de Janeiro, uma em Rancharia, mais uma em São José do Rio Preto e a terceira em Americana. Temos mais seis lojas para inaugurar este ano.

Folha- Como a empresa tem se renovado e adaptado em busca de atender às novas exigências dos consumidores? As Lojas Cem pretende entrar no comércio eletrônico, como está esta questão?

Domingos – Se você for a uma de nossas lojas, vai ver que temos a melhor vitrine do mercado brasileiro. É a mais bem cuidada, mais bem exposta, com o layout mais bem definido e rico em produtos. Para acompanhar a evolução da exigência do mercado, cuidamos muito do nosso espaço físico, deixando ele confortável, atualizado. Nossas lojas são climatizadas, o ar no interior das lojas é renovado a cada dois minutos. Investimos muito em treinamento. Posso garantir, hoje, que temos a melhor equipe de vendas do varejo brasileiro. Somos extremamente especialistas em lojas físicas. É inevitável que nós vamos entrar no e-commerce. Não entramos ainda, porque entendemos que esse mercado tem um mundo que ninguém conta. Existe uma fantasia que se vende na internet, porque boa parte das empresas do nosso ramo, que vende pela internet, está na bolsa de valores. Então, estas empresas criam um monte de informações que, na prática, você percebe que não são verdadeiras. A internet suga, praticamente, toda a rentabilidade de uma empresa. Tomamos muito cuidado e, por isso, nunca fechamos uma loja. Temos uma gestão estruturada e pensada. Vamos entrar no e-commerce no momento certo. Hoje, mais de 90% das pessoas que consomem nosso produto, compram em lojas físicas. Sabemos que, em nossas principais concorrentes, o maior faturamento vem da venda eletrônica, porém, sacrificando totalmente o lucro. Não somos desfavoráveis à venda pela internet. Somos desfavoráveis a ter prejuízo. Temos uma plataforma comprada. Negociamos com a SAP, uma das maiores empresas de software do mundo, compramos toda a tecnologia para vender pela internet. Só que entendemos que ainda não é o momento de entrar no e-commerce. Mas, nós vamos entrar, tomando os cuidados que muitos não tomaram.

Folha – O brasileiro depende muito de crédito para comprar. O que as Lojas Cem oferecem de facilidade ao consumidor na hora da compra?

Domingos – O que ninguém oferece. Somos a única empresa do nosso ramo que tem crediário próprio. Não dependemos de banco. Todos os nossos concorrentes dependem de banco. Praticamos a menor taxa de juros do mercado. Chega a ser 50% menor do que o mercado cobra e 70% das nossas vendas são feitas através do carnê, pagos em todas as lojas com recursos próprios. Quando um cliente atrasa uma parcela, cobramos apenas 1% de juros ao mês.

Folha – Os brasileiros que vivem fora das regiões metropolitanas devem gastar cerca de R$ 3 trilhões em 2022, o que dá força para negócios gigantes criados bem longe do eixo Rio-São Paulo. A sede das lojas Cem está em Salto (interior paulista). Como o senhor avalia o cenário do varejo no primeiro semestre e quais as expectativas para o segundo semestre?

Domingos – Esse primeiro semestre foi muito positivo. Em 2020 e 2021, tivemos lojas fechadas por conta da pandemia. Estamos encerrando o primeiro semestre com crescimento de 25% em relação ao ano passado. A perspectiva para este segundo semestre não será diferente. Temos a eleição presidencial e a Copa do Mundo. Para o nosso ramo, a Copa do Mundo é importante e será no fim do ano, quando a população tem um pouco mais de dinheiro por conta de 13º salário. Com relação a ser fora do eixo Rio-São Paulo, nossa força é no interior, temos pouquíssimas lojas na cidade de São Paulo e nenhuma loja na cidade do Rio, somente no interior. Praticamente, no Estado de São Paulo, 90% das nossas lojas estão no interior. Nossa intenção é, evidentemente, levar essa condição para este eixo que muitas vezes é desprezado, que é o interior mais a fundo. Estamos no Paraná e Minas, também não voltados para as capitais.

Folha – Para terminar, qual o segredo e o diferencial para manter a qualidade e tradição nesses 70 anos e ser considerada a melhor empresa do varejo do Brasil?

Domingos– Fazer o básico bem feito sempre. Quando faz isso, você consegue eficiência e ter um padrão. Sempre fizemos isso. Também respeitar quem faz parte deste cenário, sejam os colaboradores, os fornecedores e os clientes. Quando há um respeito mútuo, você consegue ter aliados. Trabalhamos muito nos momentos difíceis para superar as dificuldades e muito nos momentos bons para aproveitar as oportunidades. Temos orgulho em dizer que nunca fechamos uma filial. Na pandemia, ficamos 60 dias com todas as lojas fechadas, sem nenhuma venda. Não mandamos nenhum funcionário embora, suspendemos todos os carnês enquanto as lojas não fossem reabertas. Mesmo depois que as lojas abriram, demos mais 60 dias para as pessoas pagarem, sem nenhuma correção de juros. São coisas que o mercado não faz.

Matéria Especial – Nicole Floret