Mário de Andrade, Oswald de Andrade e eu
Opiniao

Mário de Andrade, Oswald de Andrade e eu

Um dos recantos coloniais mais vistosos, com sua bela arquitetura de época, à beira da praia é essa joia de Paraty, no Rio de Janeiro. Recentemente, ela aparece com frequência na imprensa falada e escrita porque vem sendo sede de uma concorrida Feira de Escritores. Daí porque aparecem os nomes de Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Oswald de Andrade é uma figura original no panorama literário brasileiro porque reúne aspectos paradoxais em meio a temas abstratos e vanguardistas, lembrando o que se chama de personalidade performática. Foi objeto de muita discussão com outros escritores e até teve inquietudes iniciais com outro grande nome que foi Mário de Andrade.
Aliás, convém refletir que Mário talvez tenha sido a grande manifestação da chamada antropofagia oswaldiana. Fala-se à boca pequena que Macunaíma talvez seja a grande realização que não foi alcançada pelo próprio Oswald.
Lembro-me muito bem de Mário de Andrade, que conheci durante 10 anos, semanalmente nos encontramos na famosa Livraria Jaraguá, de Alfredo Mesquita, onde tomávamos chá em companhia de um punhado de intelectuais paulistanos, muito  frequentada pelos professores franceses da Faculdade de Filosofia, Ciências de Letras da USP. Algumas vezes, Mário e eu íamos tomar o nosso chopp em uma confeitaria no centro de São Paulo.
Como todos sabem, Mário de Andrade foi um gigante, pois multifário e polifacético, foi tudo. Escritor, poeta, ensaísta, folclorista, músico, brilhante executivo – criador do Departamento Municipal de Cultura, joia importante para São Paulo. Nossa referência ao querido mestre e amigo pela contem-poraneidade que me deu.
Lembrei-me, para terminar, de um episódio de certo modo conflituoso que tive com o grande Oswald de Andrade. Em um congresso paulista de escritores, no ano de 1945, eu propus uma moção para que todos os prefeitos do Brasil criassem um serviço de difusão cultural, incluindo literatura, artes plásticas, música, teatro, humanidades em geral, enfim, através de departamentos, secretarias ou simples instituições.
O congresso aplaudiu o meu tema por intermédio de vários colegas, a não ser o próprio Oswald, que se insurgiu, na ocasião, dizendo que aquilo era “intromissão do totalitarismo cultural”. Houve repúdio em massa por parte de escritores, mas após um ano, cresceu em todo o Brasil o tema aprovado.

Nelson Zanotti é professor emérito da Fundação Santo André, Sítio de Tangarás.