Meu primeiro emprego
Conversas de Memória

Meu primeiro emprego

O pensador alemão Karl Marx, em um dos seus escritos sobre o trabalho, fez o seguinte comentário acerca da diferenciação entre a atividade humana e a aquela instintiva realizada pelos animais:

“Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma abelha envergonha muitos arquitetos com a estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que o primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construí-la com a cera.” MARX, K. O Capital: crítica da economia política.

Marx está dizendo que, por mais perfeito que seja um “trabalho” realizado por um animal, ele o faz instintivamente, diferente do ser humano que usa sua capacidade intelectual para idealizar e, posteriormente, o concretizar o trabalho, mesmo algo simples, braçal…

Ainda, para o ser humano o trabalho tem uma dimensão mais ampla, além de garantir a subsistência, pois é através dele que o ser humano interage com a natureza e a transforma, construindo-se a si mesmo nesse processo.

Tendo em vista a importância dessa dimensão essencialmente humana, finalizando o mês de maio, mês este que tem em seu primeiro dia a homenagem ao trabalho e aos trabalhadores, o Centro de Memória, da Secretaria de Cultura e Juventude, da Prefeitura de São Bernardo, promoveu na quarta-feira, dia 29 de maio, mais um encontro de Conversas de Memória, tendo por tema: Meu primeiro emprego.

A iniciação no mundo do trabalho formal, através do primeiro emprego, é um fato importante que invariavelmente deixa marcas na trajetória de vida das pessoas, cujas lembranças e memórias nos falam de costumes, condições sociais, econômicas e culturais de outras épocas, de outros tempos…

Na cidade das fábricas de móveis, das tecelagens, das grandes metalúrgicas, entre outras, o trabalho nas empresas sempre fez parte indissociável do cotidiano.

Para muitos, as fábricas foram as primeiras escolas profissionalizantes, pois na ausência destas – antes de Senai, ETI (atual ETEC), FEI e outras – era como aprendiz que se iniciava nas empresas, muitas vezes ao lado do pai que ali exercia sua profissão, especialmente no período em que predominavam as fábricas de móveis e tecelagens.

Nos relatos, é recorrente a precocidade com que muitos começaram a trabalhar – 9, 10, 11, 12, 13 anos… – dividindo o tempo de trabalho com estudo. Alguns para ajudar no orçamento doméstico e outros no trabalho de empresas familiares.

Em alguns casos, os menores não tinham registro e nem mesmo uma jornada de trabalho regular. A fiscalização era precária, mas, quando aparecia o fiscal na fábrica, os menores eram escondidos…

Nas grandes metalúrgicas não existia essa informalidade e os jovens aprendizes tinham formação e estímulo para ali seguirem carreira. Essa prática mais formal também era encontrada em algumas poucas pequenas empresas…

O trabalho, além de ser um meio de “ganhar a vida”, era visto como elemento educador, formador de caráter para todas as dimensões da vida.

Apesar das dificuldades para conciliar trabalho, estudo, vida familiar e lazer, as lembranças do primeiro emprego trouxeram saudades… dos sentimentos de outrora, da empolgação diante da vida que se abria, dos caminhos a serem percorridos, das esperanças e sonhos… E a satisfação pelos obstáculos superados, pelas conquistas e realizações…

Jorge Magyar  

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