Não perca a força de espírito
Opiniao

Não perca a força de espírito

Soube que meu marido, há meses, estava a criar coragem para falar o que ele me diria em meu leito hospitalar e, no dia em que eu estava para dar luz ao nosso primeiro filho, ele, contudo, começou a conversa pelo ponto mais nevrálgico da historia: -Ana eu vou me separar de você. Eu estava tão concentrada no bebê que estava para nascer, que imaginei não ter ouvido direito: -O quê? O que você falou?  -Sim, é isso mesmo! Desculpe ter que ser desse jeito, aqui nesse lugar, mas fato é que eu não te amo mais. Eu fiquei a pensar o porquê daquilo tudo e o motivo que ele esperou justamente esse dia para me falar isso. Desconsiderei: -Olha, hoje não é um bom momento para conversarmos isso. –Eu tenho outra, Ana. Antes mesmo que eu pudesse saber se ele não teria vontade de ver a criança, ele já havia saído do quarto.
Tínhamos tudo: Uma casa bonita, dois carros na garagem, piscina, passeios aos feriados, porém, minha animação caiu de dez para zero numa escala emocional. Max nasceu numa quinta feira e era tão lindo e inocente que não fazia ideia do que estava acontecendo. Quando meu filho tinha cinco semanas de idade eu descobri que meu marido não só já tivera muitos casos, como também conheceu outra pessoa durante minha gravidez. Mudei-me para o subúrbio, os amigos sumiram, mas também quem ia querer ajudar uma pessoa sem dinheiro, morando longe e com um bebê recém-nascido para cuidar? Entrei em profunda depressão, desânimo e vontade de não fazer nada. Eu estava caindo num poço e não conseguia ver o fundo. Meu filho não tinha culpa de nada, e eu tentava mascarar esse período ruim a dar sorrisos para ele – eu não queria que ele me visse chorando.
Os primeiros três meses foram resumidos a um borrão de lágrimas. Após licença maternidade voltei a trabalhar, mas não queria mostrar para ninguém o que havia acontecido comigo e fingia que as coisas iam bem. Num domingo chuvoso, quando Max fez seis meses, eu tive uma forte discussão com meu ex-marido ao telefone e, então fui fazer um chá para me acalmar, sentei na cadeira da cozinha e, após o terceiro gole, a xícara espatifou de encontro à parede. Os cacos voaram para tudo quanto é lado, mas o barulho do estilhaço não foi mais forte que meu choro e meu grito de “não quero mais viver”. E então fui chorando baixinho e mantive assim por um bom tempo.
Conforme as lágrimas cessavam, um silêncio tomava conta de mim, foi quando eu percebi que uma força que vinha de minha alma interior começou a se manifestar. Eu precisava tomar o controle da minha vida. Eu decidi não mais dar ao pai de Max o poder de afetar minha vida com tanta negatividade, pois essa energia ruim queria me dominar também.
E então, súbito, arrumei as malas, peguei meu filho e fui visitar meu irmão a 623 quilômetros de distância. Dentro do ônibus eu cantava pra ele, sorria com ele, falava com ele… Que benção era meu filho… Meu filho era o motor da minha vida, era quem me fazia levantar da cama todas as manhãs. Decidi, então, concentrar-me na força e na confiança que existe no meu coração. Senti vontade de encontrar com os amigos e de rir com eles pela primeira vez em meses. Eu aprendi que minha felicidade tem que vir de dentro e é esta a lição que desejo compartilhar com os outros.
Sou responsável por minha própria vida, e não pela vida de quem me suga energias. E se eu quiser construir minha felicidade, não deverei estar ao lado de quem não me quer. Que o espírito dentro de mim se torne uma alegria e não algo que tenho medo de perder.

“Quando está suficientemente escuro, você ainda consegue ver as estrelas” – Charles Beard (1874 – 1948, EUA) – historiador.