“Não temos o direito de errar”, diz Lula na Fiesp, no Dia da Indústria
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“Não temos o direito de errar”, diz Lula na Fiesp, no Dia da Indústria

A Federação e o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), promoveram, na quinta (25), data em que foi celebrado o Dia da Indústria, evento para discutir os caminhos para a reindustrialização do Brasil.

O evento contou série de debates com convidados e especialistas internacionais. Entre eles, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que anunciou que serão liberados R$ 20 bilhões em crédito para investimentos em inovação no país, com uma taxa de juros de 1,7% ao ano, com dois anos de carência.

Também foram abertas novas linhas de crédito para as indústrias. Uma delas, voltada à exportação, com R$ 2 bilhões e redução de 61% do spread do banco, e outra de R$ 2 bilhões, que pode chegar a R$ 4 bilhões, para a indústria exportadora ter as mesmas condições de financiamento da agricultura: 7,5% ao ano, com taxa fixa em dólar e dois anos de carência.

No encerramento do evento, o presidente da Fiesp, Josué Gomes, relembrou, em seu discurso, o enfraquecimento da indústria nacional ao longo dos anos. “O Brasil também, entre os anos de 1940 e 1980, ostentou o maior crescimento mundial, puxado pela locomotiva da indústria. A indústria brasileira catapultou o Brasil para colocá-lo entre as dez maiores economias do mundo. Foi a indústria que puxou esse crescimento, alcançando quase 30% de participação do PIB. Infelizmente, nas últimas quatro décadas, com alguns anos de exceção, a indústria encolheu, definhou e está, hoje, entre 11% e 12% do PIB. Não é à toa que o Brasil, nos últimos 10 anos cresceu 0,6% ao ano”, disse.

Para Josué, é necessário que a indústria recupere esse dinamismo e a reforma tributária contribuirá para isso. “A reforma tributária que vai corrigir uma das maiores distorções que temos hoje. O sistema nacional de impostos indiretos ele pune, não só a indústria, ele pune o crescimento nacional. Ele está esgotado, ele precisa urgentemente ser modificado e nada melhor do que o IVA (Imposto sobre Valor Agregado), porque é um imposto adotado em 172 países do mundo, um IVA que trará a desoneração dos investimentos, a desoneração das exportações”, enfatizou.

Para o presidente da Fiesp, com o IVA , estaria: “resolvido o arcabouço fiscal, resolvido a reforma tributária, resolvido um preço da economia que está colocado num patamar equivocado já há décadas”.

O ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, em aceno à Josué, ressaltou que quer apoiar a indústria, pois sabe o papel dela para o desenvolvimento nacional e que o sistema tributário é o grande vilão do crescimento. “O atual sistema tributário é o grande vilão das baixas taxas de crescimento da nossa produtividade, não há como crescer a produtividade do Brasil com esse sistema tributário”, frisou.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), que também esteve presente no evento, demonstrou forte alinhamento com o governo federal, que tem o slogan “União e Reconstrução”, ao dizer que passado a polarização e a radicalização, o momento é de reconstrução do País. “Reconstrução que chamo do que interessa para o Brasil, que é o nosso desenvolvimento econômico que é o pressuposto social e humano”, disse.

Pacheco ainda falou que o novo regime fiscal deverá ser entregue ao presidente Lula em junho, para ser sancionado.  “No decorrer do mês de junho poderemos entregar para a sanção do presidente um regime fiscal responsável que permitirá a contenção de despesas, com responsabilidade fiscal, mas expressará também um desejo da sociedade brasileira que é de ter investimentos em políticas públicas, sociais”, afirmou.

O presidente do Senado também discorreu sobre a importância da Reforma Tributária. “A Reforma Tributária é a reforma mais desejada pela sociedade brasileira há décadas, é a mudança no sistema de arrecadação tributária, se essa é uma realidade nacional nos incumbe como obrigação cívica no Congresso Nacional aprovarmos a Reforma Tributária para darmos um novo cenário para o nosso país. Esse compromisso nós temos”, enfatizou.

Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente da República, também defendeu a reforma tributária. “Vai dar um salto de eficiência, redução de custo Brasil, simplificação, ajudar a exportação, enfim, dar um passo importante”, disse. Alckmin também defendeu o patamar elevado do câmbio e criticou a taxa selic. “O câmbio está bom, competitivo, o juro tem que cair. A taxa selic de 13,75% prejudica a atividade econômica, ela segura a atividade econômica. Mas, o regime fiscal vai ajudar e muito”, avaliou.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez o discurso de encerramento do evento. Rebateu críticas que tem sofrido e garantiu que não irá errar no terceiro mandato. “Agora começou o jogo, vamos jogar, conversar com o Congresso e fazer a governança daquilo que precisamos fazer. O que não podemos é nos assustar com a política. Toda vez que a sociedade se assusta com a política e ela começa a culpar a classe política, o resultado é infinitamente pior. Já tivemos lições e é importante lembrar, que, por pior que seja a política, é nela e com ela que temos soluções dos grandes e pequenos problemas do nosso país”, disse.

Lula garantiu que não fará um mandato ‘menor’ do que os outros dois anteriores. “Não voltaria a ser presidente do Brasil para ser menor do que fui nos dois mandatos. Voltei para a presidência da República porque acredito que é possível a gente recuperar esse País. Esse país tem que voltar a crescer economicamente, tem que voltar a comer três vezes por dia, o povo tem que voltar a estudar”, destacou.

Lula ainda esclareceu o apoio que tem dado à Argentina. “Mais do que ajudar a Argentina é ajudar os exportadores brasileiros que vendem para a Argentina. Garantia que o nosso mercado continue exportando bem para a Argentina”, afirmou.

O presidente ainda fez um comparativo da produção da indústria automobilística que, em 2015, produzia cerca de 6 milhões de carros por ano e, atualmente, nas palavras de Lula, não produz mais ‘nem 2 milhões por ano’.  “Sabemos que 60% dos carros vendidos no ano passado foram à vista, porque não tem política de crédito para financiar. E a classe média baixa não está mais comprando carro, porque um carro popular de R$ 90 mil não é mais popular, já é de classe média”, explicou.

Na avaliação de Lula, é preciso fazer uma indústria ativa e altiva, competitiva e moderna. “Que leve em conta os avanços tecnológicos, a transição energética, que leve em conta as novidades. É preciso saber que para ter um país forte, com indústria forte, é preciso ter trabalhadores fortes ganhando salário justo e podendo ser consumidor das coisas que ele produz”, enfatizou.

O presidente ainda defendeu o agronegócio. “Queremos que a indústria cresça, mas queremos que a nossa exportação de commodities continue crescendo, queremos que o agronegócio continue crescendo, porque é importante termos em conta que o Brasil precisa ser mais exportador de grãos, de carnes, das coisas que produzimos e isso não atrapalha a indústria”, disse.

Lula classificou como “excrescência”, a taxa de juros ser de 13,75%. “O país não merece isso”, frisou.

O petista encerrou o discurso dizendo que não tem o direito de errar. “Nós não temos o direito de errar. Vamos fazer tudo o que tem que ser feito, porque em nossa opinião o povo pobre, que é muitas vezes tratado com desprezo, é um grande ativo deste país. Ajude-os a ajudar vocês, pois se vocês crescerem, o país cresce, os trabalhadores crescem e nós venceremos”, concluiu. 

ABC

Os prefeitos de Mauá, Marcelo Oliveira (PT); de Diadema, José de Filippi Júnior (PT), e o de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB) participaram do evento. Do ABC também esteve presente o secretário-executivo, Mário Reali, e o diretor de Desenvolvimento Econômico, Joel Fonseca.

na ocasião, Morando falou com exclusividade à Folha. O prefeito ressaltou as características industrias do município e destacou a visita de Alckmin, na última semana à São Bernardo. “São Bernardo é uma cidade industrial, com uma indústria muito forte, com alta capacidade de produção, lógico que o setor automotivo lidera esse processo industrial, mas toda a cadeia do automóvel da autopeça e de tantos outros segmentos. Quero registrar a minha satisfação e a minha gratidão por tudo o que a indústria representa na cidade. O vice-presidente Geraldo Alckmin esteve comigo em São Bernardo, na última semana, deixou claro o empenho e o esforço que eles estavam trabalhando para reduzir impostos, em especial nos veículos chamados populares”, disse.

O prefeito ainda disse que a redução de impostos para veículos com valor inferior aos R$ 120 mil é uma ação que irá melhorar o cenário da indústria, mas não é suficiente. “O que já vimos, ao longo do dia, é a expectativa de reduzir impostos de veículos abaixo de R$ 120 mil. Isso com certeza pode ajudar e melhorar, mas não basta. Precisamos reduzir juros, melhorar as linhas de crédito e principalmente, os critérios de garantia para o financiamento, mas já considero um passo importante”, avaliou.

 

 

 

 

 

 

(Foto: Ricardo Stuckert/PR)