No final vai ter brigadeiro
Opiniao

No final vai ter brigadeiro

No dia vinte e quatro de dezembro fui almoçar com a família de minha esposa, no dia seguinte fui com meu pai e irmãos almoçar fora.

Três dias após o natal fui para a casa de minha mãe na capital, e ela estava a viajar como a maioria que lê esta coluna agora, aliás, para reunir todos os conhecidos e amigos em meu aniversário, um dia vou enviar um convite para a casa de cada um mais ou menos assim: “dia 29 de dezembro vou fazer uma festa, num barco com direito a comes e bebes, tudo de graça e, se quiserem, podem dormir na embarcação, quem souber nadar, então, pode até arriscar uns mergulhos, mas tomem cuidado com os peixes-pedra… traga quem quiser, pois vai ter dj, e, o melhor de tudo: não paga!

Tem medo de água, não gosta do mar ou enjoa? Prometo, no próximo ano comemorar em um casarão, ou sítio de um amigo ao melhor estilo boca-livre. Não pode porque vai viajar? Sem problemas… a gente tira umas fotos e manda então, porque tenha certeza que você vai perder o maior festão! (obs: chegue a hora que quiser porque vai rolar o dia inteiro).”

Dois dias depois de meu aniversário, lá fui eu para a São Silvestre, embarquei na estação Prefeito Celso Daniel e desembarquei no metrô Trianon, uma e quarenta e cinco da tarde. Havia bastante pessoas, muitos eram turistas, especuladores, transeuntes e curiosos que queriam ver os mais variados tipos de atletas: o shrek ia correr junto com o bob esponja; a chiquinha e o chaves também estavam lá; mais adiante, o homem das cavernas a se aquecer; Roberto Carlos fazia a manutenção do seu protótipo de carro.

Entre mascarados, corredores com chapéus de corno e fantasias de super-heróis, estava eu, sentado na sarjeta da Avenida Paulista com mais uns sem-números de pessoas e, à minha frente, um rapaz fazia sua arte mambembe a embaixar bolas com os pés, cabeça, ombro… era bola de tênis, bola de gude, até coco ele petecava, não bastasse o cara conseguiu tirar a camiseta sem deixar a bola cair e, ainda, tornou a vesti-la – ganhou uns bons trocados.

Um moço de Osasco senta ao meu lado e diz: “Perdi meus alfinetes para grudar o número do peito aqui!”. “Ah sim…” retruquei “Tome esses três aqui, e eu fico com estes outros três também!” “Você tem seis?!” “É… vieram a mais”. Amizade de corrida. Ficamos ali a assistir as embaixadinhas, daí o rapaz foi ao toalete, e não o vi mais. Leia-se, aqui, banheiro público removível, ou seja, aqueles caixotes verticais que fedem mais que queijo podre no esgoto, e a fila era imensa, tão grande a ponto de demorar quase uma hora para entrar.

Cinco horas, e a corrida vai começar, olho para o lado, o cara apareceu. Saímos juntos no cooper. Nesse tipo de evento nunca se está só, pois todos ali querem virar o ano no espírito da força de vontade, no gosto de que, com um pouco mais de esforço, sempre se chega lá.
São 15 quilômetros ao todo, no décimo terceiro, antes do viaduto do chá, falei para o rapaz que estava comigo: “Segue você, porque minhas pernas não agüentam mais” Parei, me alonguei, e continuei a correr, mas percebi que não dava mesmo.

E eis que chega o ponto mais crítico e temido pelos amadores, inexperientes, profissionais e maratonistas do mundo todo: Brigadeiro Faria Lima. Andei até um pouco mais da metade do Brigadeiro e, antes que eu pudesse entrar na Paulista, acelerei como um cavalo que chega à baia.

De vinte um mil corredores, cheguei em onze mil e pouco, foi minha primeira corrida de rua, passei o Reveilon realizado com a família vendo fogos da varanda do prédio, satisfeito, na esperança de que virá um ano repleto de muito trabalho e esforço para conseguir o que se quer.

“Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando
inutilmente.” – Erico Veríssimo

guilherme.lazzarini@yahoo.com.br – Publicitário e Fotógrafo