O futuro da TV Cultura (I)
Opiniao

O futuro da TV Cultura (I)

04/05/13

Sem nenhum compromisso com os fatos e com as transformações concretas por que tem passado a TV Cultura, alguns petistas e radicais primários dizem que a emissora está sendo desmontada. É algo semelhante à acusação de que a mídia brasileira seria o Partido da Imprensa Golpista (PIG). Em lugar debater com o mínimo de racionalidade os problemas do País, essas pessoas se insurgem a qualquer preço contra a Rede Globo, a revista Veja, o Estadão, a Folha, O Globo e outros veículos.
É claro que podemos divergir de muitos aspectos ou pontos de vista de qualquer um desses jornais ou emissoras de TV. Mas a generalização do apelido reflete apenas o ódio petista ou de esquerdistas contra todos que não aceitam a posição crítica da maioria da imprensa contra a corrupção de seus governos, a começar do mensalão. Fazem o mesmo contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e, em especial, contra o presidente dessa corte, Joaquim Barbosa.
Este não é, contudo, o tema de minha análise neste artigo, leitor. Quero fazer um balanço da experiência da TV Cultura e discutir suas perspectivas, às vésperas de novas eleições para a presidência da Fundação Padre Anchieta. Vejo com simpatia e muita esperança a possibilidade da volta de Marcos Mendonça, em sucessão a João Sayad.
Ouvi de Marcos Mendonça alguns pontos interessantes de seu programa de trabalho, caso seja eleito. Destaco apenas um: a criação de um canal exclusivamente voltado para a educação. Espero que esse projeto se concretize, com o melhor nível e qualidade.
Sempre sonhei com uma TV pública que me oferecesse programas de alto nível, com o melhor conteúdo cultural, mas acessíveis a grande parte da população, música clássica com grandes artistas e as melhores orquestras, um telejornal diferente, com debates e comentários de especialistas, muito acima do achismo tão comum na internet e na própria mídia.
Acompanho a TV Cultura desde sua inauguração em junho de 1969. São quase 44 anos, portanto. A rigor, a Fundação Padre Anchieta, mantene-dora dessa emissora de TV e das duas rádios educativas, tem passado por alguns momentos de altos e baixos. O período atual é de inegável evolução. A rigor, a Fundação Padre Anchieta opera quatro canais de TV educativa: três canais abertos (TV Cultura, Univesp e Multicul-tura) e um canal por assinatura (Rá-Tim-Bum).

O que melhorou
Tenho escrito periodicamente e avaliado a programação da TV Cultura. Recomendei-a em janeiro aos internautas que se sentem desencantados com a falta de opção de qualidade que enfrentam em muitos momentos, sugerindo-lhes que vejam a nova programação da emissora, mesmo àqueles que tenham, eventualmente, optado por pacotes da TV por assinatura – modalidade de televisão que, aliás, continua crescendo a mais de 20% ao ano e já alcança mais de 50 milhões de telespectadores no País.
A boa notícia é que a TV Cultura vem melhorando a cada dia. Sempre sugiro aos amigos, escravizados às novelas, que passem a ver às 9 da noite o Jornal da Cultura, com a âncora Maria Cristina Poli. Muito mais do que outros noticiários, esse telejornal consegue inovar em busca de um padrão de informação mais completo e democrático, apoiado muitas vezes em matérias didáticas (chamadas Jornal da Cultura Explica), bem produzidas e equilibradas. Ou no conceito de segunda tela, que apresenta textos complementares, esclarecedores de dúvidas e capazes de aprofundar os temas em debate.
O Jornal da Cultura conta ainda com a participação de debatedores de alto nível, que se revezam de segunda a sexta-feira. Eles têm coragem de dar opinião, embora quase sempre alfinetados por telespectadores, pelo Twitter. O que enriquece o telejornal é a variedade de opiniões, o apro-fundamento de conceitos e o confronto de teses.
É claro que, como TV pública, a TV Cultura ainda precisa de muita evolução se nossa meta for algo como a BBC de Londres, que dispõe de um orçamento no mínimo 50 vezes maior. Mas o importante é notar as transformações dessa emissora, na linha do tempo.

Para quem ainda não descobriu a nova programação da TV eu aconselho que visite primeiro o portal da emissora (http://cmais.com.br). Veja a grade de programação, não apenas do canal principal (TV Cultura 2.1), mas também dos subcanais digitais, 2.2 TV Univesp e 2.3 Multicultura, que estão há quatro anos no ar, desde a inauguração da TV digital no Brasil.

Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br