O impacto da tecnologia que transformou o jornalismo em 20 anos
Opiniao

O impacto da tecnologia que transformou o jornalismo em 20 anos

Quem poderia imaginar, em 1998, que o jornalismo poderia passar por transformações tão profundas nas duas décadas seguintes como efetivamente passou, no Brasil e no mundo. A internet foi, de longe, o mais poderoso fator de mudanças ocorridas nesse período, não apenas sobre o jornalismo impresso, mas sobre todas as formas de comunicações, como o rádio, a TV e as telecomunicações em geral.
Esse processo de transformação parece não ter fim e não se limita aos efeitos diretos da internet, mas, muito mais, de sua ação em conjunto com as redes sociais, com a digitalização de todas as formas de comunicação, a conectividade de toda a sociedade alavancada pelas redes sem fio e, em especial, o smartphone – dispositivo que se transformou numa espécie de computador portátil e terminal de informação hoje nas mãos de mais de 80 milhões de brasileiros.
O jornalismo impresso tem passado por duas grandes mudanças de paradigmas:   
• A primeira foi a mudança que os jornais foram obrigados a fazer em seu modelo de negócio e ou de sustentação econômica. Esse modelo, baseado nos anúncios de publicidade dos jornais, vigorou nos últimos dois séculos, mas foi quase destruído em menos de duas décadas diante da concorrência da internet, que passou a ofertar espaços publicitários por preços ínfimos.
• A segunda mudança de paradigma ocorreu em sua audiência, em grande parte migrada para as redes sociais, atraídas pela informação em tempo real e pela interatividade, que possibilitou o diálogo muito mais amplo entre a multidão de blogues e portais com seus leitores-internautas. Essa concorrência da internet afetou até a audiência da TV e um pouco menos a do rádio.
Por conta dessas mudanças, tanto a circulação como o número de jornais e revistas vêm caindo em todo o mundo. Os veículos que sobrevivem hoje são os de maior credibilidade e de prestígio – e que souberam usar de forma inteligente as redes sociais como suas aliadas estratégicas.
Mas talvez isso não baste para garantir a existência e o sucesso desses jornais e revistas nos próximos anos. Mas, para sobreviver, num cenário de sucessivas mudanças tecnológicas, essas publicações deverão ser capazes de rever ou recriar sucessivamente suas estratégias.
A médio prazo, terão que abandonar a custosa impressão em papel, para competir em igualdade de condições com os melhores veículos digitais de informação online na internet, cujo número deve crescer rapidamente.
Alguns grandes jornais no mundo parecem estar vencendo esses desafios, ao combinar a força de uma imagem positiva com a nova agilidade proporcionada pelo jornalismo eletrônico da internet.
Não é uma transição fácil nem rápida. Mas que pode ser vencida, pois há uma parcela expressiva de público leitor que está cansada da superficialidade e dos altos e baixos que caracterizam a maioria dos blogs e portais, quase todos desprovidos de compromissos com a imparcialidade e com a confiabilidade da informação.

Como sair do papel para o digital
Entre um número reduzido de exemplos, escolhi dois casos internacionais relativamente bem sucedidos de grandes jornais impressos que vêm fazendo essa transição da impressão em papel para um novo jornalismo eletrônico ou digital de qualidade. Esses dois exemplos são os jornais The Washington Post e New York Times. E, para garantir sua sustentabilidade econômica nesse período de transição e de maturação de um novo modelo de jornalismo, ambos os jornais contam hoje com o suporte de grandes investidores.
Embora haja riscos nesse apoio – como a perda de independência crítica dos jornais diante de grandes interesses de corporações controladoras – tudo parece caminhar a contento no caso.
Num primeiro momento, é essencial garantir a sobrevivência de jornais que se transformaram em instituições de prestígio.
Embora não seja o único modelo de transformações empresariais, o que ocorre no Washington Post e no New York Times pode ser um dos caminhos de consolidação econômica dos grandes jornais do futuro.
Outro modelo pode ser o do jornal britânico The Guardian, que faz um jornalismo da melhor qualidade sem anúncios ou publicidade e que pretende formar uma comunidade de leitores que, como assinantes ou doadores, apoiam a linha filosófica e a independência de um jornal com base apenas em seus princípios.

A estratégia dos dois grandes jornais
Vale recordar aqui que, o Washington Post foi comprado por US $ 250 milhões em dinheiro em 5 de agosto de 2013, por Joseph Bezos, o bilionário dono da Amazon. Para a compra do jornal foi criada uma empresa holding, a Nash Holdings, criada especialmente para formalizar o negócio.
A venda foi feita em 1º de outubro de 2013, e a Nash Holdings assumiu o controle do Post. Em janeiro de 2016, Bezos decidiu reinventar o jornal como uma empresa de mídia e tecnologia, reconstruindo sua mídia digital, plataformas móveis e software de análise.
Ao longo dos primeiros anos após a compra do Post, Bezos foi acusado de influir no conteúdo do jornal, mas o conselho editorial do jornal rejeitou aquelas acusações. Em 2016, o jornal se tornou lucrativo pela primeira vez desde após a compra por Joseph Bezos.
O jornal The New York Times, por sua vez, se moderniza com uma estratégia mais cuidadosa, preferindo investir em seu portal na Internet com a melhor qualidade possível, incorporando em suas edições digitais podcasts e novos recursos visuais, como filmes, vídeos, imagens e gráficos especiais.
Em janeiro de 2015, o bilionário Carlos Slim se tornou o primeiro acionista individual do  New York Times, depois de aumentar sua participação de cerca de 8% para 16,8%, segundo anunciou o jornal em comunicado.
Slim, segundo homem mais rico do mundo depois de Bill Gates, exerceu sua opção de compra de uma boa parcela de ações do jornal, mas o controle do jornal permanecerá nas mãos da família Sulzberger, que possui a maioria das ações classe B, com maior poder de voto.
O lado mais positivo dessa transação foi a injeção de 101 milhões de dólares no The New York Times, que serão totalmente reinvestidos na recompra de ações classe A, com o objetivo de não diluir as participações de outros acionistas, segundo o comunicado.
Na época, Mark Thompson, diretor-presidente do Jornal, disse que o Times acreditava que um programa de recompra de ações era um uso apropriado dos recursos em caixa.