O mito do robô que pensa
Opiniao

O mito do robô que pensa

Robôs chegarão um dia a pensar como nós? Talvez. A discussão é antiga, pelo menos como tema de ficção científica. As opiniões de cientistas, contudo, se dividem em posições diametralmente opostas. Para alguns, a inteligência dos robôs nunca alcançará o nível da humana. Outros apostam que as máquinas poderão até superar nossa inteligência.
O mundo, entretanto, não conhecia, até agora, um único caso de robô capaz de raciocinar. O primeiro caso foi divulgado há poucos dias pelas agências internacionais, ao informarem que um grupo de cientistas japoneses havia criado um robô que aprende pela experiência, exatamente como os seres humanos, embora isso pareça ficção científica. São máquinas que podem aprender tarefas para as quais não foram programadas.

Robô executa só atividades prosaicas
O responsável principal pelo projeto do novo robô é o cientista Osamu Hasegawa, professor associado no Instituto de Tecnologia de Tóquio (Tokyo Institute of Technology), que desenvolveu um sistema que permite ao robô olhar o ambiente em volta e fazer pesquisas na internet para descobrir a solução de um problema.
O professor Hasegawa lembra que a maioria dos robôs atuais são muito bons para executar tarefas previamente programadas, mas eles sabem muito pouco do mundo real em que vivemos nós, seres humanos. “Desse modo”, lembra o cientista, “nosso projeto é a tentativa de construir uma ponte entre os robôs e o mundo real.”
O segredo para realizar esse salto é um algoritmo, chamado Rede Neural Incremental de Auto-Organização (em inglês, Self-Organizing Incremental Neural Network, ou SOINN), que permite aos robôs usarem seus conhecimentos anteriores para inferir o caminho para completar tarefas que lhes pedimos para executar. As tarefas que o novo robô executa até aqui, entretanto, são prosaicas, como servir chá, buscar um objeto na sala ao lado ou pesquisar o endereço de uma empresa na internet.

Vale lembrar que o conceito de singularidade foi divulgado pela primeira vez por seu criador, Vernor Vinge, professor do Departamento de Ciências Matemáticas da San Diego State University, em palestra no Simpósio Vision-21, patrocinado pela NASA, em 30 e 31 de março de 1993. (http://mindstalk.net/vinge/vinge-sing.html).

O novo debate
A discussão mais recente desse tema acaba de ser retomada em artigo publicado pela Technology Review, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), por Paul Allen, cofundador da Microsoft, e Mark Greaves, diretor da Vulcan Inc. Para ambos, a singularidade ainda é um sonho muito distante, opinião compartilhada pelo colunista da Forbes Alex Knapp. (O primeiro artigo pode ser acessado pelo link: www.technologyreview.com/blog/guest/27206/?p1=A3 e o outro, em www.forbes.com/sites/alexknapp/2011/10/14/paul-allen-says-that-the-singularity-is-far-far-away? partner=technology_newsletter).
O artigo da Technology Review mostra que a incrível complexidade da cognição humana deve servir como advertência àqueles que proclamam estar a singularidade próxima. Sem entendermos com profundidade científica o processo de conhecimento humano, não poderemos criar software capaz de dar início à singularidade.
Mais do que a aceleração dos avanços tecnológicos previstos por Kurzweil, Allen e Greaves acreditam que o progresso do entendimento da natureza da inteligência e do conhecimento humanos tem sido fundamentalmente lento pelo freio de sua complexidade.

Ainda um sonho
O brasileiro Jean Paul Jacob, cientista emérito da IBM e professor da Universidade de Berkeley, tem sido um dos críticos mais antigos da singularidade e das ideias de Kurzweil. Sua posição coincide totalmente com a crítica de Allen e Greaves, em especial quando eles afirmam que estão neste momento “apenas arranhando a superfície da neuro-ciência”, aspecto que, aliás, destacou em sua recente crítica há poucos meses.
Jean Paul Jacob defende, também, a mesma opinião do neurocientista David Linden, para quem “a visão dos nanobots (nanorrobôs) de Kurzweil, combinando com cérebro humano, é virtualmente uma impossibilidade física”.

Ethevaldo Siqueira, colunista do Estadão (aos domingos), é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br