O mundo desumano
Opiniao

O mundo desumano

Frequentemente, seres luminares – de grande cultura e inteligência – são porta-vozes de apreciações dramáticas sobre a conjuntura mundial. Não é para menos, pois talvez possamos dizer que o abandono de alguns freios religiosos contribuiu para a crescente materialização da vida social.
Por outro lado, a ideologia do prazer levou o homem ao signo do ócio, do menor esforço, da vantagem a qualquer preço e, desse modo, a chamada “civilização” foi se desenvolvendo em um processo anti-ético. Convém acrescentar que é próprio do consumismo incentivar grandes taxas demográficas, porque elas representam maior consumo, ainda que de classes mais pobres, mas que se compensam pelo maior número de consumidores. A religião católica, sob outra perspectiva – por razões religiosas – jamais restringiu historicamente o aumento da população.
Assim sendo, nos últimos cem anos e, marcantemente, nos últimos cinquenta, esteve em alta a tendência de se gastar a qualquer preço. Não somente o normal de um consumo equilibrado era suficiente: as despesas exageradas ou supérfluas passaram a tomar conta, como exemplo as compras incenssantes ou impulsivas.
Alguns países se notabilizaram nessa patologia econômico-social e se transformaram lamentavelmente em exemplos do caos crescente. Dois ou três carros por família, ou melhor ainda, um carro por cada membro da família, idem para televisão e o rebotalho informático. Tudo isso resultou no que estamos presenciando: uma crise mundial, sem escapatória.
Há um fato gravíssimo, que é o fato de a economia global ter se tornado o fulcro ou o vetor desta aventura alucinante, onde a noção de país, com seus Estados e Governos próprios, exercia uma relação econômica internacional menos conturbada.
Hoje, um automóvel é fabricado em muitos países, onde cada parte é mais barata do que em outra nação. Os interesses não são mais nacionais, mas sim internacionais, e o que é altamente preocupante – não é um interesse internacional organizado, mas a soma de inúmeros interesses internacionais, multifacetados, que se degladiam. No fundo, não temos mais uma única chefia. Esse panorama não é animador, mas a esperança é a última que morre.

Nelson Zanotti é professor emérito da Fundação Santo André, Sítio de Tangarás.