O novo boom imobiliário
Editorial

O novo boom imobiliário

Ainda que a economia do país esteja sendo afetada pelo avanço da pandemia de Covid-19, o mercado imobiliário está otimista e prevê crescimento de mais de 30% neste ano, depois do avanço de 57,5% em 2020, com R$ 124 bilhões liberados pelos bancos. No ABC, dados da Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC (ACIGABC) revelaram que houve aumento de 29,5%, nas vendas no primeiro trimestre de 2021 e que os lançamentos também foram 73,9% maiores que o mesmo período do ano passado.
O crônico déficit habitacional no Brasil, que proporciona uma demanda muito grande para a aquisição da primeira casa própria ou ainda a troca para a segunda, somado à redução dos juros, proporcionaram o cenário perfeito para o financiamento imobiliário bater recorde. Isso significa que o valor da prestação de um imóvel passou a caber no bolso do comprador. As parcelas do financiamento ficaram mais baratas do que o próprio valor do aluguel.
No primeiro trimestre de 2021, os recursos para aquisição de imóveis subiram 113%, na comparação com o mesmo período do ano passado, e atingiram R$ 43,1 bilhões, com 187,6 mil unidades vendidas, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
A projeção de crescimento passou dos 27% para os 34%, de acordo com a Abecip. A expectativa é que, neste ano, sejam utilizados para financiar imóveis novos e usados, cerca de R$ 170 bilhões.
De fato, o mercado imobiliário é bastante cíclico, e atualmente, está na fase boa deste ciclo. Desde 2015, o setor amargurava baixos números de lançamentos e poucas vendas, situação que foi revertida com a pandemia. Mesmo com a crise econômica e as incertezas em relação ao futuro, os brasileiros se sentiram motivados para comprar a primeira casa própria, trocar de imóvel, adquirir um segundo ou até mesmo fazer um bom investimento.
Os preços dos imóveis também acabam sendo convidativos, pois ainda não recuperaram as perdas da última crise. Desde o pico, em dezembro de 2014, os preços estão 24% mais baixos, segundo dados do Índice FipeZap residencial.
Um grande estímulo para a compra são os juros baixos. Quando os juros caem, o mercado é estimulado e quando sobem, o mercado sofre com perdas. De acordo com os dados do Banco Central, mesmo com o início da alta na taxa Selic (os juros básicos da economia), neste ano, foi registrado o menor valor da série histórica, pois a taxa média de juros do crédito imobiliário para pessoas físicas foi de apenas 6,9% ao ano em março de 2021. Em comparação a janeiro de 2020, a taxa de juros média atingiu o patamar de 7,4%.
Porém, o que poderá atrapalhar essa boa fase deverá ser a alta do preço de insumos, que tende a frear o ritmo de novos empreendimentos imobiliários. De acordo com informações da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), há um forte aumento no custo dos materiais de construção. No primeiro trimestre deste ano, 57,1% das companhias do setor apontaram a falta ou alto custo dos insumos, com isso, empresas do setor de construção já estão tirando o pé do acelerador.
Portanto, ainda que a pandemia tenha agravado a crise econômica, ela também contribuiu para um novo boom imobiliário.