O patinho feio
Opiniao

O patinho feio

Fui a um significativo encontro de meus amigos dos Anos Dourados. Procurei conversar com os filhos deles, já quarentões, procurando enxergar o resultado da educação que tiveram. Leandro era o mais simpático, e, na época do nosso primeiro encontro, com a namoradinha, bateu longo papo comigo. Ele estava apaixonado por essa moça que achei muito interessante. Leandro é de uma família abastada, muito ligada a luxo e aparências. Reencontrei, aos 45 anos de idade, um Leandro desanimado demais. Perguntei pela esposa, achando que se casara com a menina que conheci. “Glorita, eu a perdi! Sou a pessoa mais infeliz do mundo. Fui um tolo ao dar ouvidos a minha família. Eu adorava Stella, desde menina, como você percebeu. Era minha alma gêmea, o verdadeiro amor de minha vida e ainda é! Sou o mais novo de casa e namorei Stella desde os nossos 13 anos. Ela era meu céu. Minha família a tratava de “Patinho feio”, maldosamente. Meus três irmãos casaram-se com mulheres bonitas, nos moldes modernos de percepção de beleza, baseados em cabelos longos e louros, feições de “barbies”, corpos sarados e na cabeça, só futilidades. Tinham total apoio de meus pais que gastavam fortunas com carros, roupas, apartamentos de luxo, para conservar assim, os casamentos dos meus irmãos, que possuem o mesmo modo de pensar e assim educam seus filhos. Stella e eu ficamos juntos até nossos 24 anos, e, por uma fraqueza minha, cedi ao pedido de meus pais, para passar uma semana em nosso sítio, em Campos do Jordão, quando a família se reunia para o aniversário de duas cunhadas. Meu pai pediu que eu não levasse Stella, pois sabia que eu queria me casar com ela e achava bom que tivéssemos uma semana de afasta-mento. Disse-me que seria saudável para nossa vida, antes de marcar a data do casamento. Stella foi ver a avó no interior e entendeu, como sempre, este pedido de meu pai. Imagine: era um complô bem planejado por todos, para me afastar dela.
No sítio, eu não participava das conversas e isolei-me vendo filmes e bebendo. Sentia-me deslocado, saudoso. Lá estavam duas primas de minhas cunhadas, parecidas com elas, como se fossem de uma só forma, louras, altas, saradas e vazias. Não tenho preconceito, mas foram muitos anos de insistência de meus pais para que eu me casasse com uma “mulher bonita”, nos moldes deles. Numa madrugada, desci para comer algo, já que me sentia alcoolizado e enjoado, pois bebera demais. Em seguida chegou a esperta “prima”. Sinceramente, foi hábil em seduzir-me. Só por uma noite, afinal que mal tinha, dizia ela! Fui praticamente “engravidado” por ela, que já tinha tudo esquematizado. Na manhã seguinte fiquei furioso, peguei minhas coisas e fui para São Paulo, enjoado, morrendo de angústia pela minha fraqueza e amando ainda mais minha Stella. O resto você já deve saber. Tive um filho com a “mulher de uma só noite”. Não me casei, abracei minhas obrigações de pai com dignidade e a intensidade do meu amor por meu filho está na mesma proporção da repulsa que sinto por Maíra, sua mãe. Stella ficou chocada e, mais ainda porque ficou sabendo por minha cunhada, que se adiantou a mim e ligou contando a novidade. Minha amada sumiu. Mudou-se, e quando a vi, há pouco tempo, num churrasco numa fazenda no interior, quase desmaiei de taquicardia emocional. Stella estava deslumbrante, muito bem casada com um simpático e rico fazendeiro, com três lindas filhas. Quando olhei, trêmulo, no fundo de seus olhos, enxerguei minha Stella, de alma pura, super mulher que teria sido minha, se eu não tivesse sido fraco por uns minutos. Hoje estou só e infeliz. Sonho acordado que Stella está voltando para mim.”A fraqueza de caráter, por segundos que seja, mata nossa felicidade. Até!

Glorita Caldas é professora e consultora da LAC Consultoria, e-mail: glocaldas@uol.com.br