O presente é hoje
Opiniao

O presente é hoje

Júnior não se interessava pelos os estudos, aos dez anos era ansioso e sempre pensava no que queria ser quando crescesse. Ele era hiperativo e dificilmente conseguia se concentrar no que fazia, de modo que sempre no inverno, sonhava com o sol brilhando e, no verão, ansiava por passeios de esquis e trenós nas neves. Na escola desejava que as aulas acabassem logo, e não via a hora de chegar os fins de semana. Numa tarde, foi passear, encostou-se numa árvore e, prestes a cair no sono apareceu uma moça que, em suas mãos levava um objeto circular na qual uma linha saía de dentro:

-Olhe o que tenho aqui Júnior! -O que é isso? Perguntou curioso. -É a linha da sua vida, retrucou a mulher, e continuou: -Não toque nela e o tempo passará normalmente, mas se desejar que o tempo passe mais rápido, basta puxar a linha um pouco para baixo, certifique-se que essa linha não mais voltará para dentro da bola e, se aceitar meu presente, não conte para ninguém senão morrerás, você a quer?

O novelo de linha era dourado e Junior aceitou na hora No dia seguinte, ele não estava com paciência de ouvir a professora falar. Puxou a linha e aula terminou rapidinho. Ficou maravilhado. Aliás, ele deu um puxão mais forte e o ano letivo acabou!

Agora tinha 16 anos e era aprendiz de carpinteiro. Adorava sua nova vida. Quando o pagamento demorava, bastava a linha puxar. Casou-se com uma garota. Na cerimônia, percebeu que o cabelo de sua mãe ficava grisalho, e refletiu sobre a rapidez com que puxava a linha, queria parar com esse hábito e deixar as coisas correrem, mas logo sua esposa ficou grávida, veio um filho, e todas as vezes que a criança ficava doente, Júnior usava sua bola mágica para que o menino se curasse.

A vida para ele não tinha percalços, ou sofrimentos. A linha, agora, passava da cor dourada para prateada, seu cabelo esbranquiçava, seu rosto aparecia rugas, sua esposa dera mais dois filhos, e Júnior já perdia a paciência com a criançada. Desejou, pois, que os filhos já estivessem formados e, num longo puxão da linha, viu-se a morar apenas com a esposa.

Suas costas lhe doíam, já não exercia a profissão com afinco, e pensou em se aposentar, ao que foi só fazer uso da linha. Certa vez, em sua casa sem nada para fazer, resolveu passear pela floresta e, sob a mesma árvore, caiu num sono leve, quando foi despertado por uma voz que seu nome chamava:

-Júnior, Júnior. Ao abrir os olhos viu uma mulher que encontrara há alguns anos. –E então como foi sua nova vida? Gostou? -Não estou bem certo, contradisse Junior -O tempo passou rápido e, para falar a verdade, não aconteceu nada na minha vida que eu pudesse classificar como excitante. Puxar a linha só antecipa minha morte.

-E qual seu último desejo? Quis saber a mulher. –Meu último desejo é viver minha vida como se fosse a primeira vez. –Assim seja, disse a mulher. -Devolva-me a bola. Quando Júnior despertou estava na cama, e sua jovem mãe disse: -Acorda, você está atrasado para escola.

 “Não importa o quanto você se importe, algumas pessoas apenas não importam” – autor desconhecido.