Albert Einstein era um sonhador quanto ao papel do rádio na vida humana. Para ele, “o rádio, essa extraordinária invenção, tem uma função exclusiva no mundo atual, que é permitir a reconciliação entre os povos. Sim, o rádio tem essa função única de aproximar as nações”.
Vejam o que o grande físico dizia em 1930, quando o rádio estava em sua infância como meio de comunicação de massa no mundo, e Einstein era o convidado mais ilustre, incumbido de fazer a palestra de abertura (keynote speech) da sétima edição da IFA (Internazionale Funk Ausstelen) – ou seja Exposição Internacional do Rádio, em Berlim, que evoluiu e hoje se transformou no maior evento mundial de eletrônica de entretenimento e de consumo, realizado pela 55ª vez – e que acabo de cobrir em Berlim.
Numa busca que repito há anos, tenho resgatado alguns trechos daquela conferência do mais famoso cientista do século 20. Como o rádio ainda estava na infância, nada melhor do que discorrer sobre esse tema. E, curiosamente, a maior parte do discurso do grande cientista se concentrou em sua expectativa otimista de que a comunicação mundial sem fio poderia ser um fator de entendimento, de compreensão e de amizade entre os povos.
Eis alguns trechos curiosos daquela apresentação de Einstein, que consegui traduzir com auxílio de jornalistas alemães, há poucas semanas:
“Queridos presentes e ausentes! Se você já ouvir o rádio, é possível que gostaria de saber como as pessoas passaram a dispor dessa maravilhosa ferramenta de pensar a comunicação. A fonte de todas as realizações técnicas são, a meu ver, a curiosidade divina e o simples divertimento de consertar que desafiam o pesquisador e talvez ainda mais a imaginação criadora do inventor técnico.
Lembrem-se de Oersted, que observou pela primeira vez o efeito magnético de correntes elétricas observadas no arroz utilizadas para produzir a magnetização de uma membrana como meio sonoro, então chamada de Bell, em seu microfone que transformava as vibrações acústicas em correntes elétricas variáveis.
Pensem também em Maxwell, que mostrou a existência de ondas elétricas matematicamente. Ou em Hertz (…). Lembrem-se desse instrumento musical tão belo que é o órgão (de tubos), que traduz o talento incomparável do artista em oscilações elétricas concebidas na válvula elétrica, algo que se tornou uma conquista maravilhosa, a partir de uma simples ferramenta para a geração de oscilações elétricas.
Lembrem-se, agradecidos, do exército de técnicos sem nome, que simplificaram os métodos de produção em massa para adequá-los os instrumentos de sintonia do rádio, para torná-los acessíveis a qualquer um. (…)
Pensem também sobre o fato de que são os engenheiros que tornam possível uma verdadeira democracia. Eles facilitam quase tudo não só ao homem, no seu trabalho cotidiano, mas também possibilitam aos pensadores e aos artistas a realização de obras cuja apreciação até há pouco tempo era privilégio das classes privilegiadas e assim tirar os povos das trevas da ignorância.
Que dizer especificamente quanto ao rádio? Essa extraordinária invenção tem uma função exclusiva no mundo hoje que é permitir a reconciliação entre os povos. Sim, o rádio tem essa função única de aproximar as nações.
Sabemos que, até hoje as pessoas só se conhecem quase que exclusivamente através do espelho distorcido de seus próprios jornais diários. O rádio apresenta, de forma mais vibrante do que qualquer outro e toca as pessoas pelo seu lado mais sensível e emocional. Ele ajuda, assim, a erradicar o sentimento de alienação mútua que se transforma tão facilmente em desconfiança e hostilidade.
Vistos sob este espírito, os resultados da criação tecnológica se apresentam com um novo sentido aos olhos atônitos do visitante desta exposição.