O valor do tempo
Opiniao

O valor do tempo

Não existia telefone celular, usávamos orelhão. As pesquisas eram na biblioteca –  bem mais legal que internet, pois estávamos envolto àquele mar de livros, cujas prateleiras expiravam cultura. Os trabalhos eram escritos à caneta em papel de almaço. As capas eram as mais criativas – nada de imprimir. Sem contar que na escola a matéria mais esperada por todos era Educação Física.
Orelha, alfinete, bolo, cabeção, 4 olhos, baixinho, zóio, olivia palito… a lista é grande de apelidos – não existia bulling, mesmo porquê todos se divertiam com essas alcunhas que não chegava ao exagero de ser pejorativo. Brigas haviam, mas logo estava tudo resolvido para mais uma ‘pelada’ com bola de meia.
Antes de iniciarem as aulas, sempre cantávamos o hino nacional… mesmo após trinta anos, ainda sei de cabeça. Em fila indiana, todos entoavam o hino do Brasil, na qual estudávamos seu significado, bem como as concordâncias das frases da letra de Joaquim Osório Duque Estrada.
Sim, tínhamos redes sociais. Chamava-se Enquete: Cadernos de pergunta que todos na sala de aula respondiam com informações pessoais e daquilo que mais gostávamos. Os meninos colecionavam figurinhas de campeonatos de futebol e batíamos ‘bafo’ no chão duro mesmo; enquanto as meninas colecionavam papeis de cartas… tinham até cheiro esses papeis. Elas escreviam tudo lá, mas uma coisa que todos possuíam eram os fichários. Ah, os fichários… enormes pastas, cujos os 4 ganchos internos perfuravam as folhas que iam presas dentro – serviam até mesmo de porta-livros… quantas vezes eu nem levava mochila para apenas levar somente o fichário? E eram todos personalizados com fotos e recortes de revistas daquilo que mais identificávamos.
Quem morava perto (eu) ia à escola a pé, e eu encontrava, logo de manhã alguns alunos pelo caminho rumo à mesma escola. Na saída, quando alguém fazia aniversário, era a maior diversão: Não podia faltar ovo e farinha, mas não era para o bolo não! Era para jogar no aluno. Aniversário sem ‘ovada’, significava que o colega passou a festa em branco. As ‘ovadas’ eram sinônimo de carinho – um carinho com pitada de sacanagem, pois o cabelo das meninas ficava um horror, a roupa sujava e era intenso o fedor. Fora os ‘bailinhos’, que às vezes tinha até declaração de amor.
Final de ano, quando as aulas acabavam, os alunos todos escreviam em nossas camisetas. Aquelas assinaturas eram as coisas mais valiosas do planeta. As meninas, claro, sempre com mensagens mais delicadas que os garotos.
Hoje quando nosso filhos falam ‘peraí, pai’ é para ficar mais tempo no computador ou celular. Na minha época era para ficar mais na rua, ou com os amigos a conversar. Filmes eram só na TV, e não víamos a hora deassistir Jaspion, Chaves, Caverna do Dragão, Changeman, Sessão da Tarde, e um bom Atari jogar.
Hoje eu me pergunto: Onde foi que os valores vieram a mudar.

“O tempo é livre. Mas uma vez perdido, você nunca o tem de volta.” Harvey Mackay, 88a. – Executivo americano