Olhos da alma
Opiniao

Olhos da alma

Um fotógrafo estava a retratar uma modelo no meio da rua, porém, no momento de um certo clique, uma pessoa atravessou na frente e, outra moça é quem foi clicada. A moça olha para o rapaz, o rapaz olha para a moça e, ela em tom de desculpa, sai a lamentar-se. O homem apaixona-se à primeira vista e, é certo, aceita as desculpas. A foto revelada, portanto – da desconhecida garota – fica pendurada no laboratório do fotógrafo.
No dia seguinte, o homem vai cortar o cabelo a trajar uma touca. A cabeleireira era, coincidentemente, aquela por quem ele havia se apaixonado ao primeiro clique. Enquanto ela lavava o cabelo do moço, sem querer, deixou escorrer sabão em seus olhos – tão apaixonada estava!
Com o cabelo cortado, o fotógrafo foi embora. Minutos depois de chegar a seu estúdio, a campainha toca. Ele abre e, por surpresa, era a mulher que havia cortado seu cabelo horas antes: –Vim devolver-lhe essa touca, imagino ser sua, não? –Oh, que cabeça a minha. Muito obrigado. Entre por favor. –Não, obrigado, já vou indo. –Espere, fique um pouco mais, pois devo lhe dar um presente de agradecimento e o que eu tenho para oferecer são algumas fotos, é só você pousar em frente à câmera para eu lhe fazer um álbum. A moça, pois, se solta tal qual uma pipa em frente às câmeras.
Passa-se um tempo e começam a namorar. Um dia, ela estava no estúdio, sozinha, enquanto o namorado havia saído. Ela começa a relembrar algumas fotos do início de namoro e, uma delas chama a atenção: era justamente a primeira de todas. Essa foto encontrava-se em uma prateleira alta, próximo a químicos tóxicos de revelação e, no momento em que ela puxa a foto, o líquido cai em seus olhos, deixando-a cega do olho direito.
Para que ela voltasse a enxergar, a única maneira era a doação, mas quem seria candidato? Quem se arriscaria a ceder-lhe um olho? Quem gostaria de ficar cego de um olho para que ela voltasse a enxergar com os dois? Não havia como salvar aquele olho, de maneira que alguém teria que 50% da visão. Após poucos dias, achou-se a pessoa e foi feito o transplante, ao que a garota teve alta justamente no dia de seu aniversário. Reunião em família, bolos, comes, bebes e ela já havia perguntado para todos quem lhe dera a visão, mas ninguém ali na festa era dono do melhor presente que ela recebera. Ao mesmo tempo em que ela não se continha de felicidade ao poder enxergar e celebrar com pessoas queridas, ela sentia a ausência de uma pessoa. Onde estava seu namorado? Faltando poucos minutos para o parabéns, bate-se à porta, alguém abre, todos olham para o convidado atrasado.
Ele usava óculos escuros e portava um buquê nas mãos, porém, ninguém, mas ninguém se atreveu a questionar o motivo dos óculos, já que estava na cara que o próprio namorado era quem doara o olho. Todos ali se comoveram, a aniversariante não se conteve e começou a chorar: um amor que é visto de dentro.

“Existe uma força motriz muito mais poderosa que a eletricidade, o vapor e
a energia atômica: A vontade” – Albert Einsten (1879 – 1955).