Para entender a situação no Egito
Opiniao

Para entender a situação no Egito

O Egito enfrenta uma onda de protestos sem precedentes, que pedem reformas urgentes e o fim do governo de Hosni Mubarak, há 30 anos no poder. Ela tem inspiração no levante que derrubou o presidente da vizinha Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, cujo governo se prolongava havia 23 anos. Além do Egito, os levantes no mundo árabe inspirados no exemplo da Tunísia se espalharam por Jordânia, Iêmen, Argélia, Mauritânia, Sudão e Omã.
Aos 82 anos, Mubarak já apresentou alguns problemas de saúde e não confirmava se seria candidato a um sexto mandato na eleição presidencial prevista para setembro deste ano. Analistas acreditavam que ele iria tentar emplacar seu filho, Gamal Mubarak, como sucessor no comando do Partido Nacional Democrático (PND), o maior partido do país.
O partido domina o Parlamento e esteve todos estes anos a serviço do presidente, que também comanda as Forças Armadas. Mas a estabilidade deste ex-militar da Aeronáutica, principal aliado do Ocidente entre os países árabes, se viu pela primeira vez ameaçada. No final de janeiro, a oposição no Egito se uniu pela primeira vez para integrar os protestos iniciados em 25 de janeiro. Principal força oposicionista, a Irmandade Muçulmana, que tinha deixado aos seus membros a possibilidade de participar dos protestos, anunciou seu apoio oficial dias depois.
O posicionamento da Irmandade Muçulmana, organização da qual se originou a facção palestina HAMAS , representou um novo desafio ao governo de Mubarak.
Somou-se a isto o retorno ao país do Nobel da Paz e ex-presidente da Agência Internacional de Energia Atômica, ligada à ONU, Mohamed ElBaradei. Ele, que conta com a simpatia do Ocidente, expressou sua disposição de assumir um eventual governo de transição caso Mubarak seja deposto e não descartou concorrer nas eleições de setembro.
O presidente dos EUA, Barack Obama, que tem no Egito o principal aliado no mundo árabe, também pressionou pela saída imediata de Mubarak. Líderes da União Europeia se juntaram aos apelos pela renúncia.
Até mesmo aliados de Mubarak, como o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia, Mostapha al Fekki, também membro do Partido Nacional Democrata, pediu ao presidente egípcio “reformas sem precedentes” para evitar uma revolução no Egito. Existe uma grande preocupação de que com a saída de Mubarak, possa surgir de maneira rápida e até como golpe de estado, um governo radical islâmico, semelhante ao exemplo da antiga Pérsia, atual Irã.  A proliferação de revoltas para países menores preocupa autoridades ocidentais pela fragilidade destes regimes.
Outra preocupação do mundo Ocidental é com relação a Israel, já que, atualmente, só dois países da região têm tratados de paz com o país: Egito e Jordânia.
O número dois da diplomacia americana, James Steinberg, anunicou que os Estados Unidos trabalharão para assegurar que a violência desatada no Egito não crie “novos perigos para Israel ou a região”.

Marcos Rodrigues Pinchiari é cirurgião-dentista em Santo André – e-mail: mpinchiari@yahoo.com.br