Tirando o fôlego
Opiniao

Tirando o fôlego

Na praia estavam todos reunidos em volta de uma fogueira. A lua exibia sua brilhante circunferência, cuja cintilância prateada mergulhava no oceano e se arrastava pelo mar clareando aquela noite estrelada, em que as ondas bailavam ao som do violão de um nativo. Mas antes que ele começasse outra canção, resolve, pois, contar uma história que aconteceu, um dia, naquela praia:
“Era um domingo de sol, a praia estava cheia de gente e o calor era intenso. A ressaca do mar deixava as ondas ferozes, mesmo assim haviam surfistas, mas não muitos. A recomendação da patrulha local era que os banhistas nivelassem a água abaixo da cintura.
Era quase dez da manhã, e os experientes surfistas ali em suas pranchas sabiam que o mar não estava para peixe. Certa hora, um dos surfistas remou para mais longe a fim de pegar uma grande onda que quebrava mais distante. Ele teve êxito, conseguiu surfar a onda até a areia e retornou para o fundo do mar a fim de continuar seu esporte preferido.
Nesse instante começou um vento forte, o mar se agitou e o rapaz viu-se pressionado pela correnteza dos redemoinhos. Os outros surfistas perceberam a dificuldade e foram ajudá-lo, mas logo veio uma onda tão grande que, nós, locais daqui, nunca vimos nada parecido. O rapaz foi engolido pela gigante, e, na hora que os banhistas viram a prancha chegar sozinha na beira da praia sem o surfista, a galera caiu na real. Cadê o cara, cadê o cara?
Quando sua esposa e filho souberam que ele se afogara, a mulher entrou em pânico. O que muita gente não sabe é que o rapaz, experiente como era, ao perceber a fúria do mar, largou a prancha e nadou sozinho até as pedras, por debaixo d` água, num exercício de apneia. E enquanto o pessoal o procurava ele já estava salvo na extremidade da praia sentado numa rocha a recuperar o fôlego.
Ninguém o viu nas pedras, e pra falar a verdade já se passavam 40 minutos que ele estava ‘desaparecido’.
Chegou polícia, guarda municipal, bombeiros, uma confusão. Os salva-vidas entraram na água com bote inflável e jetskis, os alto-falantes alertavam para ninguém permanecer na água, os banhistas evacuaram o mar, e placas de ‘proibido entrar’ foram espalhadas em todo lugar. Depois de duas horas de procura ainda não tinham achado o moço e a busca continuava. A esposa estava desconsolada e o filho muito triste.
Eis que o cara surge, com um caminhar tranquilo, como se nada tivesse acontecido.
Salva-vidas e bombeiros foram socorrê-lo, mas o aspecto saudável do moço os convenceram de que não era preciso resgate. Quando o menino viu o pai, saiu correndo em direção a ele. O moleque tinha uns nove anos, o pai se ajoelhou e no momento do abraço, qualquer coisa que você perguntasse pro menino ali, ele seria incapaz de responder.”
“Por quê?” quis saber alguém presente no lual.
 Nesse instante o nativo preparou um acorde do violão, prenúncio da música que viria depois da resposta:
 “Porque chorava copiosamente.”

“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela”. – Albert Einstein, Físico teórico (1879 – 1955).