Traga suas ferramentas
Opiniao

Traga suas ferramentas

21/07/2012

É bem provável que você, leitor, se depare a partir de agora, com maior frequência, com a sigla Byod, que resume a frase em inglês Bring your own device. No jargão dos especialistas, a sigla e a frase traduzem a estratégia corporativa de permitir que o empregado “traga seu próprio dispositivo ou equipamento” para o ambiente de trabalho. Eis aí um dos conceitos e tendências mais interessantes no mundo da tecnologia da informação (TI): o Byod (pronuncia-se: bi-uai-ou-di).
Esse tema, aliás, foi objeto de um estudo recente da Cisco, cuja principal conclusão é a de que 95% das empresas norte-americanas são favoráveis a essa estratégia, não apenas permitindo, mas até estimulando que os empregados tragam seus dispositivos eletrônicos pessoais – como notebooks, tablets ou smartphones – para o ambiente de trabalho.
Russell Rice, diretor de Administração de Produtos da Cisco norte-americana, em entrevista exclusiva a esta coluna, lembra que a onda do Byod é muito recente. “Até há pouco, eram raras as empresas que permitiam ao empregado trazer seus equipamentos pessoais para o trabalho. Hoje, a maioria delas já comprova que o uso desses dispositivos traz muitas vantagens, como o aumento da produtividade, a redução de investimentos em hardware e software e a elevação do grau satisfação do empregado no trabalho. Mas, é claro, tem também seus riscos e limitações.”

A descoberta do Byod
O que surpreende o executivo da Cisco é o extraordinário interesse das empresas por Byod. “Tanto assim que a Cisco tem recebido número crescente de pedidos de demonstrações sobre sua aplicação, inclusive sobre suporte, mobilidade e segurança.”
As primeiras corporações a adotar essa nova tendência, há menos de dois anos, foram, entre muitas outras, as empresas de serviço, de informática, de comunicações, de publicidade, de saúde e as lojas de eletrônica e de varejo, como Apple Store. Na área de manufatura, ela é um sucesso, em especial, para profissionais de projetos e desenhos de produtos.
É claro que, além dos equipamentos em si (hardware), o conceito de Byod abrange, também, o software utilizado nos dispositivos, como sistemas operacionais, aplicativos, planilhas, browser, antivírus ou processadores de texto.

Tendências
O estudo prevê que, em 2014, o número médio de dispositivos conectados por profissional da área de TI terá subido dos atuais 2,8 para 3,3. E, na visão de muitos administradores, as vantagens do Byod já superam suas preocupações com segurança e gastos com suporte, pois essa estratégia parece oferecer enorme potencial de benefícios. Eles estimam que o Byod e outras iniciativas de mobilidade poderão consumir 20% dos orçamentos de TI em 2014, em contraste com um consumo de quase 17% em 2012.
Uma conclusão geral da pesquisa é o fato de o Byod ser apenas “a porta de entrada de uma série de benefícios para os negócios”. E, na opinião de 76% dos líderes de TI entrevistados, “a estratégia pode ser considerada não apenas de moderada influência, mas extremamente positiva para suas empresas”. Mas, é claro, reconhecem, ela traz, também, muitos desafios.
Entre as empresas pesquisadas, 84% já aderiram totalmente à nova estratégia do Byod. E 36% delas vão além e oferecem suporte total aos dispositivos pessoais dos funcionários, como smartphones, tablets, laptops e outros.
Mobilidade e uso crescente de dispositivos pessoais são os dois principais fatores que impulsionam a tendência do Byod nos últimos anos. Basta lembrar que, nos Estados Unidos, 78% dos funcionários dos setores administrativos das empresas utilizam pelo menos um dispositivo móvel destinado ao trabalho profissional e 65% deles se valem da conectividade móvel para realizar suas tarefas.

O lado humano
Um dos pontos surpreendentes do estudo é a conclusão de que “os funcionários querem trabalhar à sua maneira e apoiam o Byod para ter mais controle sobre sua experiência de trabalho cotidiano”.
Segundo 40% das empresas participantes do estudo, a primeira prioridade dos funcionários é a escolha do dispositivo, porque a escolha lhes permite usar seus equipamentos favoritos em qualquer lugar.  A segunda prioridade mencionada pelos funcionários é o desejo de realizar tarefas pessoais no trabalho e tarefas de trabalho durante as horas livres.
Quase 70% dos participantes lembram as mudanças recentes ocorridas nessa área, pois, até há dois anos, as empresas não permitiam a utilização, hoje tão comum, das redes sociais, dos aplicativos, dos e-mail baseados em nuvem e de mensagens instantâneas.
Riscos e cuidados
É claro que nem tudo são flores com o Byod, pois o uso de dispositivos pessoais móveis dentro da empresa exige cuidados para reduzir os riscos de fraude, obrigando muitas vezes a empresa a rastrear ou controlar o acesso desses equipamentos às redes privadas e corporativas, para assegurar a devida segurança dos dados. Imagine o risco de um empregado que venha a perder seu smartphone ou tablet com dados confidenciais não criptografados da empresa.
Tudo isso comprova que, além das inegáveis vantagens, o Byod traz novos desafios às corporações, na longa estrada que elas têm pela frente.

Ethevaldo Siqueira, colunista do Estadão (aos domingos), é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br