Um dia de festa
Opiniao

Um dia de festa

Sair com três filhos é sempre uma epopéia. Já começa do fato que, se tiver algum evento agendado, significa que foi planejado com uma semana de antecedência. Lembro-me da época em que me falavam: Vamos? Vamos! E em menos de cinco minutos eu já estava pronto, não importa se era para a padaria da esquina ou para o Egito, eu sempre estava preparado. Minha vida sempre foi na base do improviso, até nascer os filhos.
Vai daí que, semana passada, fomos a um pique-nique na praça Vitor Civita em Pinheiros comemorar o aniversário do filho de um amigo meu, que fazia cinco anos, o Bernardo. Coincidentemente era aniversário, também, do pai do garoto. Com três crianças a bordo, o desafio é sempre chegar na hora, por isso combino sempre à tarde, já que o período matutino é inteiramente dedicado para arrumar três malas, trocar três crianças, dar três banhos, almoçar os três, e assim vai, até ficarem prontos.
A garoa insistia em não cessar, naquele sábado sem sol. A praça é um local curioso: antigamente era onde incinerava lixos domiciliares e hospitalares – imaginem a contaminação de metais pesados e outras substâncias nocivas ao organismo. Por isso mesmo, foi feito um deck de madeira legalizada, muito resistente, que suporta o alto fluxo de pessoas, a fim de evitar contato com o solo. É um verdadeiro espaço aberto à sustentabilidade.
Não fosse a festa, a praça estaria vazia, exceto por um grupo de jovens que ensaiava exercícios laborais de teatro. Naturalmente, crianças ficam acanhadas diante de tantas pessoas desconhecidas, mas, logo, soltei dois do colo, pois se encantaram com a mesa de comida, sobretudo os doces. O menino aniversariante enturmou-se rápido com meus filhos e começaram a brincar de quebra-cabeça, bolas de sabão, pega-pega, e tudo o mais – a energia dos pequenos aflora, eles subiram e desceram escadas, pularam de um palco e brincaram até no aparelho de ginástica ao ar livre, como se num play ground.
Havia duas bolinhas menores que ping-pong, o brinquedinho era de um plástico consistente, pulava demais e corria muito também. Lara jogou uma delas no meio das folhagens e, embora a bolinha fosse rosa, demorei meia hora para encontrá-la no mato verde, e, assim, quando a entreguei ao Pedro Henrique, no mesmo instante, ele jogou longe e foi dar no meio de uma plantação. Mesmo se o local fosse acessível, seria impossível encontrá-la. Perdeu-se ali. Mas a outra era azul; Bernardo, o aniversariante; jogou-a no meio do pessoal do teatro, e como ninguém podia invadir o espaço, ficou por ali mesmo.
Depois da praça, seguimos para a casa do amigo meu – pai do garoto. Pedimos uma pizza, tomamos uma cerveja, enquanto as crianças jogavam bola dentro da sala, e brincavam no quarto de Bernardo, aliás, eu nunca vi um quarto tão cheio de brinquedos espalhados pelo chão, era livro, carrinhos, bonecos, revistas, até bala e chocolate tinha. Eu conversava sobre parceria de trabalho já que esse amigo é fotógrafo – as crianças corriam de um lado para o outro.
Era nove da noite. Pedro chorou porque queria ficar na casa do coleguinha. Quando colocamos todos no carro, dormiram rapidamente. Ao chegar em casa, só Pedro foi direto para o berço. Lara e Lorenzo acordaram e, então, começa tudo de novo: faz mamadeira, troca roupa, escova o dente, arruma cama, limpa mão, lava rosto, põe fralda (Lorenzo usa) e os deixa pronto até dormirem… ou seja, é uma prática que minha esposa e eu já nos acostumamos.

“O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a
sociedade.”  Karl Mannheim (1893 —1947), sociólogo e filósofo húngaro.

guilherme.lazzarini@yahoo.com.br – Publicitário e Fotógrafo