Uma Copa de emoções e grandes sustos
Opiniao

Uma Copa de emoções e grandes sustos

28/12/13

É claro que teremos em 2014 no Brasil uma Copa do Mundo cheia de emoções – e de sustos, também. O maior deles será com o preço astronômico que o País pagará para realizar esse grande evento, com tudo concluído em cima da hora e com todos os riscos.
Com seus 200 milhões de torcedores apaixonados por futebol, o Brasil viverá intensamente os 30 dias de realização da Copa do Mundo da FIFA, que se realiza pela segunda vez no País. A primeira, em 1950, de triste lembrança, terminou com a vitória da seleção uruguaia, no Maracanã, para desespero de mais de 160 mil torcedores no estádio, como dos 50 milhões de habitantes do País.
É claro que todos desejamos a vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo. O que me parece pouco provável. Antes disso, porém, temos que torcer para que o País vença os dois maiores adversários nessa área no ano que começa daqui a alguns dias. Que adversários são esses? O primeiro é o desafio logístico, o segundo é o tecnológico.
Há muitos riscos na área logística, em especial aqueles que envolvem os aeroportos, os transportes locais e toda a segurança dos estádios. Para os pessimistas, só um milagre poderá garantir o sucesso da logística, nos seis meses que nos separam do início da Copa.
Embarquei e desembarquei há poucos dias nos aeroportos do Galeão e de Guarulhos, que se encontram ainda distantes dos padrões internacionais e despreparados para receber mais dois milhões de visitantes, vindos do pontos mais distantes do País ou do Exterior. No Rio e em São Paulo, encontrei muitos problemas, como os de ar condicionado, dos banheiros sujos, das esteiras e carrinhos de bagagens de baixo padrão, da precariedade das informações para o turista estrangeiro.
A segurança pública é um desafio que sempre preocupa. Por mais investimentos que tenham sido e ainda deverão ser feitos nessa área, sabemos que podem ocorrer imprevistos, como manifestações violentas, arrastões, greves oportunistas e bloqueios de vias de acesso aos estádio nos horários mais estratégicos.
Do lado puramente policial, além da presença de soldados na hora certa e nos lugares certos, é preciso que toda a infraestrutura de segurança conte não apenas com viaturas e helicópteros, mas, principalmente, com telecomunicações confiáveis e modernas, que possam garantir a ação mais rápida nos locais mais diversos.
E quanto aos desafios em 4G e banda larga? O primeiro risco na área de telecomunicações será com a nova geração de telefone celular, a 4G, ainda em fase de implantação no Brasil. Não duvido que a demanda por redes de banda larga no País venha a enfrentar problemas até maiores do que Londres enfrentou nas Olimpíadas de 2012, com a explosão da demanda das comunicações móveis de banda larga.
Meu temor é que as redes de celulares ainda estejam subdimensionadas para a demanda da Copa. Os maiores gargalos deverão ocorrer nos estádios lotados com mais de 50 mil pessoas, quase todos usuários de smartphones e de tablets, com acesso à internet e com possibilidade de recepção de imagens de TV.
Restam os desafios tecnológicos propriamente ditos da Copa. Esses não parecem muito sérios. Dentro do campo de futebol será testada pela primeira vez a tecnologia dos sensores que mostrarão se a bola realmente ultrapassou a linha do gol. Haverá, portanto, chips e sensores não apenas nas traves do gol mas também dentro da bola. Os árbitros utilizarão sistemas de comunicação muito mais sofisticados do que na última Copa do Mundo e até relógios inteligentes.
Fora do campo, o principal avanço talvez seja na área da televisão. Pela primeira vez, todos os jogos de uma Copa do Mundo poderão ser gravados em Super High Definition 4K – ou seja, com imagens formadas com um número de pixels 4 vezes maior do que a da TV de alta definição convencional. Uma equipe especial da NHK (corporação estatal de TV japonesa) estará no Brasil para trabalhar em conjunto com a Rede Globo nesse tipo de gravação, aliás, como já o fizeram no Carnaval de 2013. Mas as transmissões dos jogos ainda serão em alta definição convencional.

Ethevaldo Siqueira é jornalista especializado em telecomunicações e professor universitário, e-mail esiqueira@telequest.com.br