Viver a vida
Opiniao

Viver a vida

Para quem, atualmente, tem seus bons quarenta anos, deve se lembrar dos riscos de vida que corríamos quando crianças. Porém, cá estamos vivos para boas histórias contar.

Não só nossos berços eram feitos com tintas tóxicas, como também, a altura da grade era convidativa para dar umas escapadas vez em quando; mais tarde, quando já havíamos aprendido a andar de bicicleta ou skate, o capacete era dispensável – bem como cotoveleiras e joelheiras – nem mercado pra isso tinha. O mertiolate, remédio que passávamos no machucado ardia tanto que achávamos que ia morrer, mas isso era o que nos salvava e, instantes depois, estávamos prontos para outras quedas. Os quarentões devem lembrar que air-bags não existiam e, cinto de segurança, tampouco era obrigatório.

A palavra ‘porcaria’ não era sinônimo de situação chata ou coisa ruim, era algo que comíamos bastante como hambúrgueres, batas fritas, chocolates, balas e afins. Gordura trans? O que é isso? Colesterol? Nem pensar! Não engordávamos com facilidade, pois estávamos sempre sentados naquelas tábuas de quatro rodinhas descendo desenfreado ladeira abaixo: Nós mesmos produzíamos nossos rolimãs – e também brincávamos de bolinha de gude, queimada, peteca, pipa, até balão soltávamos – tudo que não existe mais hoje.

Os nascidos no fim da década de 70 e início de 80 devem se lembrar que nem o mais ultra-tecnologicamente avançado dos vídeos games atuais era melhor que o Atari. Não tínhamos celular, internet, home theater, webcams – nada disso existia e a convivência com as pessoas era das melhores. O que tínhamos mesmo eram colegas e amigos os quais nos acompanhavam nas mais arriscadas atividades como subir em árvores, escalar muros, e assistir fitas alugadas em video-locadora de filmes clássicos num video-cassete.

E aqui estamos! Apertávamos a campainha do vizinho e fugíamos, mas os vizinhos não processavam nenhum pai. Íamos a pé para a casa dos amigos e para a escola e criávamos jogos bacanas como rodar o caderno no dedo e ficar passando um para o outro, sem deixá-lo cair. Os resultados de tanta criatividade estão aí: Essa geração criou a maior empresa do mundo de busca na internet, e tem sido uma explosão de inovação e ideias. Também tínhamos fracassos e responsabilidades, claro, porém, aprendemos a lidar com tudo.

Tivemos sorte de crescer como genuínas crianças, e esse é o desafio de um pai hoje: educá-los para realmente viver a Vida. 

“Uma cabeça cheia de medos não tem espaço para sonhos”. – autor desconhecido.